A tragédia da covid-19 na vida de mulheres grávidas ficou evidente com uma pesquisa que acompanha a mortalidade materna durante a pandemia. Divulgada em julho, o estudo publicado no International Journal of Gynecology apontou que, entre 26/2, quando foi registrado o primeiro caso no país, e 18/6, 124 gestantes e puérperas morreram por covid-19 no Brasil — o que corresponde a 77% dessas mortes no mundo.
A pesquisa é conduzida por um grupo de obstetras e enfermeiras de 12 universidades e instituições públicas, entre elas, Fiocruz, USP, Unicamp, Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) e UFSC, que integram o Grupo Brasileiro de Estudos de Covid-19 e Gravidez, usando dados do Ministério da Saúde sobre as hospitalizações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Os dados revelam que quase 23% das mulheres que morreram no Brasil não tiveram acesso a um leito de UTI e 36% não chegaram a ser intubadas. “Há uma falha gigantesca na assistência. Com a pandemia de covid-19, a rede de saúde está mais desarticulada”, diz a obstetra Melania Amorim, uma das pesquisadoras ouvidas pela Folha (30/7).
Outro dado assustador é a enorme desigualdade racial: as mulheres grávidas pretas têm quase o dobro de chance de morrer por covid-19 no Brasil do que as grávidas brancas. Ao G1 (31/7), a cientista Débora de Souza Santos, professora da Faculdade de Enfermagem da Unicamp, disse que a pandemia só agrava o que já existe na sociedade. “O racismo é um determinante estrutural da saúde. A mulher preta já acumula essas opressões todas: ela já morre mais, tem menos acesso ao serviço de saúde”, explicou. Segundo a pesquisa, as mulheres grávidas pretas também tiveram o dobro de chance de precisar de ventilação mecânica em relação às brancas, e também precisaram ser internadas na UTI com mais frequência (1,4 vezes a mais que as brancas).
6 MESES DA PANDEMIA NO BRASIL
26/02
REGISTRO DO PRIMEIRO CASO DE COVID-19
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PRIMEIRA MORTE CONFIRMADA