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As lutas feministas vêm de longe na história e incorporam, hoje, a percepção das formas diversas e cumulativas como as mulheres, no plural, são impactadas em seus diferentes contextos e identidades. Há desigualdade entre homens e mulheres. Mas há ainda mais discriminação e invisibilidade caso elas sejam pobres, negras, indígenas, lésbicas, trans, ou de baixa escolaridade, por exemplo. Quando opressão de gênero, racismo e preconceito étnico ou religioso estão presentes também na atenção à saúde, agravam-se as iniquidades das condições de vida a que as mulheres estão submetidas.

A afirmação da diversidade identitária importa aos novos movimentos feministas, porque permite melhor compreender e transformar a realidade, reafirmar direitos que estão sob ataque, propor políticas públicas de proteção integral à saúde. Esta foi uma das marcas da 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres, que reuniu cerca de 1.800 delegadas eleitas em conferências municipais e estaduais. Entre os temas mais debatidos a legalização do aborto, o desmonte da saúde pública, todas as formas de opressão, assédio e violência contra as mulheres e o feminicídio — crime que custa a vida de uma mulher a cada duas horas, no país.

A violência, sob a forma de machismo, sexismo ou misoginia é estruturante na vida das mulheres, em suas relações interpessoais e de trabalho, reflete a enfermeira e sanitarista Carmem Lucia Luiz, coordenadora da conferência, em entrevista à Radis, que vale ser lida na íntegra. “As mulheres conduzem a sua vida a partir da possibilidade de sofrer violências”, diz. A reportagem ouviu representantes de diversos movimentos sociais e acompanhou a conferência do Pará, registrando também as desigualdades regionais.

O desrespeito aos direitos humanos e à sustentabilidade motivaram outras pautas na revista. No Rio, houve um dia de protestos frente a intolerância e violência contra as religiões afro-brasileiras, com ataques cruéis a religiosos e terreiros. O anúncio da extinção de reserva florestal de 47 mil km quadrados de floresta amazônica provocou revolta nacional e internacional que fez o governo Temer recuar. Em discurso no festival Rock in Rio, a líder indígena Sônia Guajajara, afirmou que “existe uma guerra contra a Amazônia, com os povos indígenas e o meio ambiente sendo brutalmente atacados”. Participantes do 53º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical concluíram que o enfrentamento das doenças negligenciadas exige a compreensão do ambiente e inclusão dos indivíduos e alertaram para o risco do aumento da vulnerabilidade social, com a perda de direitos e da proteção social e o desmonte da ciência nacional e da educação e saúde públicas.

Não deixe de ler também a matéria sobre o projeto “Refugiados de Belo Monte”, financiado via internet, que gerou o movimento “Clínica do Cuidado”. O documentário “Eu + 1: uma jornada de saúde mental na Amazônia”, dirigido por Eliane Brum, mostra este movimento de voluntários, incluindo psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, que foi à região do Xingu, em janeiro deste ano, para escutar, acolher, documentar e se envolver com a dor dos atingidos pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. São impactantes os depoimentos dos atingidos e dos profissionais que se afetaram com o sofrimento deles e com o cenário de destruição ambiental. “A vida não tá cabendo em mim”, desabafa um dos atingidos. “A dor maior é a desimpaciência que acontece aqui dentro e me faz entrar no medo”, expressa outro. “Aquilo era o horror do horror; é impronunciável a violência daquela barragem”, relembra uma das profissionais de saúde.