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  1. Editorial

O trabalho que acolhe os que têm a rua como casa

A rua é um espaço que permite todas as cores. Cores nas peles, nos corpos, nas bandeiras. Um espaço onde homens, mulheres, LGBTQIA+ de todas as raças e credos que ali vivem em situação de rua ficam entregues à própria sorte e que em comum têm a invisibilidade e a luta de cada dia para sobreviver à fome, ao frio e à sensação de vazio no estômago. A rua, um espaço de passagem, também pode expor sua violência que resulta da mistura letal do racismo estrutural, da concentração de renda e patrimônio, da desigualdade e seus desdobramentos e na assimetria do acesso a serviços públicos e oportunidades.

E é neste espaço de população invisibilizada que se constrói um trabalho em saúde, pautado pelo reconhecimento e acolhimento do outro, que dificilmente consegue acessar os serviços de saúde, de educação e ter garantidos os direitos que lhe permitam sentir-se em segurança como cidadão, num Estado garantidor dessa condição. 

Radis nesta edição mostra o trabalho dos profissionais que atuam no “Consultório na rua” — que completa 10 anos e se propõe a articular os serviços do sistema de assistência social (SUAS) e o Sistema Único de Saúde (SUS), que usa a escuta das narrativas e a diversidade de saberes dessa população que vive nas ruas, valorizando sua autonomia e construindo vínculos de confiança que contribuem para o cuidado em saúde.

São relatos que emocionam e demonstram o enorme desafio que envolve o trabalho desses profissionais com esse grupo social, na busca por romper a invisibilidade e o olhar estigmatizante de quem não reconhece o outro.

A pandemia ainda é uma ameaça, e o mundo não está livre do vírus que já fez mais de 600 mil vítimas fatais só no Brasil e deixou sequelas físicas e emocionais em milhares de outras, além do expressivo aumento do desemprego e miséria. Em meio ao caos social e sanitário que o Brasil vivencia, alguns movimentos da sociedade civil e empresas se destacam, como o da “Onda Solidária” que permitiu à Fiocruz ampliar pesquisas e testagens para a covid-19, além de apoiar populações vulneráveis. Os resultados dessa Onda Solidária são relatados aqui e dão a dimensão da credibilidade que uma instituição voltada para a ciência e tecnologia, com foco no bem estar social, tem junto ao povo brasileiro.

Os impactos da pandemia sobre as escolas brasileiras e sobre o aprendizado e a saúde mental de milhares de crianças, adolescentes e jovens são enormes. Os prejuízos serão sentidos por muito tempo e serão maiores no grupo mais pobre, o que aumentará a desigualdade. Mas afinal, é chegada a hora do retorno às aulas presenciais em todos os dias da semana? Os alunos e profissionais da educação estarão seguros com a decisão dos estados, que optarem por essa liberação? Em quase dois anos de pandemia, o poder público e o setor privado se prepararam para este momento? As salas foram readequadas para permitir algum distanciamento e há ventilação necessária? Existem medidas sanitárias de precaução, como disponibilidade de máscara e álcool gel para todos?  

A coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, em entrevista concedida à Radis, responde estas e outras perguntas, que são neste momento, motivo de preocupação para pais e educadores.

Uma mulher, Mia Amo — primeira-ministra de Barbados — fez na Assembleia Geral da ONU, realizada recentemente, o mais expressivo discurso daquele evento. Não se colocou contra a vacina e nem defendeu tratamentos ineficazes contra a covid-19. Tão pouco se vangloriou de feitos que seu país não produziu. Não contou mentiras e não leu um discurso pronto, mas falou com o coração e despertou a atenção da imprensa internacional.

Apenas se recusou a repetir discursos vazios sem chegar a nada, mas falou em nome de milhões que morreram com a pandemia e diante da crise climática. Defendeu os países sem acesso às vacinas enquanto outros têm bilhões em excesso. Reconheceu que muitos poderiam fazer mais para proteger os vulneráveis e concluiu com uma frase que resume a falta de empatia dos países mais desenvolvidos e mais ricos. “Não é porque não temos o suficiente, é porque não temos a vontade de distribuir o que temos”.

O discurso de Mia é relatado na súmula desta edição. Vale à pena a leitura!

Justa Helena Franco, Subcoordenadora do Programa Radis
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