Destacamos, nesta edição, o drama da migração forçada, suas implicações na saúde e as perspectivas de futuro dos refugiados no Brasil. A expulsão de milhões de pessoas de seus territórios em função de guerras, perseguições políticas, étnicas, religiosas, de gênero ou orientação sexual, problemas econômicos e socioambientais é a questão humanitária mais aguda no planeta, a somar-se às questões crônicas de desigualdade, miséria e injustiça social.
São quase 10 mil pessoas recomeçando suas vidas no Brasil, ultrapassando obstáculos como língua, costumes e adaptação a profissões diferentes da formação, em busca de saúde e dignidade.
O editor Adriano De Lavor mergulhou numa reportagem sobre vidas dilaceradas por desagregação familiar e ruptura com vínculos territoriais e culturais, para emergir — num texto preciso e poético, envolto na arte de Felipe Plauska — com relatos de luta pela vida e superação. Além dos refugiados, ouviu pesquisadores e profissionais que se especializaram nesse acolhimento, embora não exista política pública definida para a situação. São quase 10 mil pessoas recomeçando suas vidas no Brasil, ultrapassando obstáculos como língua, costumes e adaptação a profissões diferentes da formação, em busca de saúde e dignidade.
Destacamos também a decisão do Supremo Tribunal Federal de manter a proibição, no estado de São Paulo, do uso do amianto, causadora de doenças incuráveis e câncer, abrindo caminho para o banimento total do mineral no Brasil, como já ocorre em mais de 60 países. Nossa reportagem acompanhou a jornada de Italo Ferrero, de 77 anos, debilitado por doença respiratória decorrente da exposição ao amianto quando trabalhou no Rio de Janeiro. Veio da Itália especialmente para fazer exames requeridos pela justiça brasileira e presenciar, em Brasília, este julgamento histórico.
Com a participação da leitora Mariana Ferreira, voltamos a falar sobre o transtorno do espectro autista. Por sugestão do leitor Wanderson de Souza, fizemos um “raio x” no ofício dos técnicos e tecnólogos em radiologia, tradicional e essencial profissão nos serviços de saúde. Não é incomum essa parceria que coloca os leitores como entrevistados ou “pauteiros”, incorporando às nossas narrativas as suas ideias e enfoques dos temas. Para quem gostaria, ou nunca pensou em conhecer os bastidores do Conselho Nacional de Saúde, vale conferir como foi a reunião extraordinária do CNS, na Fiocruz, com direito a acalorados debates e animadas manifestações.
Reafirmamos, aqui, o valor da sociobiodiversidade da Amazônia, infinitamente maior que o do ouro e outras commodities. Dividida por diferentes leituras sobre a política e a economia no país, a sociedade brasileira experimentou momento raro de consenso ao reagir à irresponsabilidade do governo federal ao desproteger, por decreto, vastíssimas áreas de floresta intacta e áreas indígenas, entre Pará e Amapá, para entregá-las às predatórias companhias mineradoras. Até o fechamento da edição, uma decisão judicial sustava a medida.
Por fim, voltamos a falar do agravamento da violência no país, que alcança, principalmente, as classes populares e a vida em territórios negligenciados. À equivocada “guerra às drogas”, estratégia de confronto e encarceramento que aumenta a violência e resulta no genocídio, pelo Estado, dos jovens negros e pobres, os governos federal e do estado do Rio acrescentaram, no último mês, uma escalada da repressão policial-militar, sob o comando das Forças Armadas, que suspende os direitos mais básicos de cidadania nas favelas cariocas. Em apoio, a mídia adotou o discurso de que a cidade está “em guerra”, com uma cobertura ufanista da ação “das tropas”, que silencia a voz das comunidades e legitima mortes não apuradas como efeitos colaterais inevitáveis. Contra a falaciosa metáfora da guerra e contra o aumento da injustiça aos mais pobres, circulou nas redes sociais uma recusa à indiferença: #vidasnafavelaimportam