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Agosto de 2018 | por Elisa Batalha

Feito de maneira insegura e clandestina, o aborto está entre as principais causas de morte de mulheres grávidas. Mas não precisa ser assim. Existem recursos que permitem que o procedimento seja seguro, reduzindo as chances de intercorrências. Nos países em que é descriminalizado, a maior parte dos abortos combina dois medicamentos, o misoprostol e a mifepristona. O primeiro tem venda controlada no Brasil e é usado em ambiente hospitalar para indução de trabalhos de parto e também para expulsão do concepto, nos serviços de aborto legal e em casos de morte embrionária.

Publicado em 2009 pela organização internacional Gynuity Health Projects e assinado por uma dezena de profissionais médicos, o guia “Como prover abortamento medicamentoso em locais com poucos recursos” é voltado para gestores e discute o procedimento sem dogmas. O abortamento medicamentoso precoce é considerado no documento como extremamente seguro. O professor do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Rodolfo Pacagnella lembra que as complicações, internações e sobrecarga para o sistema de saúde são reduzidas com o uso controlado e sob supervisão de profissionais dos medicamentos mais seguros e dos procedimentos mais modernos.

A “taxa de sucesso” de mifepristona e misoprostol para o abortamento medicamentoso precoce no primeiro trimestre com até 9 semanas da data da última menstruação é alta, geralmente em torno de 95%, de acordo com a publicação. “Sucesso” é definido pelo guia como a completa interrupção da gravidez sem a necessidade de um procedimento cirúrgico. As consequências mais comuns são a dor (associada com cólica uterina) e sangramento vaginal. Esses sintomas são parte do processo de abortamento e não “efeitos colaterais”.

O abortamento medicamentoso é menos efetivo à medida que a idade gestacional aumenta. Já registrado em mais de 40 países, a mifepristona foi incluído em 2005 na Lista de Medicamentos Essenciais da OMS. Nos últimos anos, vários novos produtos à base de mifepristona e análogos de prostaglandina (misoprostol) entraram no mercado, aumentando a disponibilidade e reduzindo os custos de ambas as drogas. No Brasil, não foi liberado pela Anvisa. Para Rodolfo, o país já deveria dispor do medicamento. “Seria interessante porque ele reduz a necessidade de outras intervenções, mesmo nos casos hoje previstos em lei”, defende.

Outro método de abortamento é o procedimento de aspiração manual intrauterina (AMIU).

“Por ser feito com anestesia, a chance de complicação é pequena”.

E há ainda o procedimento cirúrgico, com anestesia de bloqueio, dilatação do colo do útero e curetagem. Quanto maior a idade gestacional, maior as chances de complicação, lembra o médico. “No Brasil o aborto nos casos previstos em lei é exclusivamente hospitalar, mas em alguns países é domiciliar. Nesses países, muitas vezes, o sistema oferece o medicamento e a mulher recebe em casa, porque pode levar até 72 horas para finalizar todo o processo”.

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