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  1. Covid-19

Onda solidária

Doações de recursos ajudaram a Fiocruz a ampliar ações de saúde e assistência a populações vulneráveis na pandemia

De um lado, uma instituição científica diante de uma grave crise sanitária. De outro, sociedade civil, empresas e órgãos do Poder Judiciário dispostos a doar recursos para ampliar ações de combate à pandemia. Para juntar essas duas pontas, a Fiocruz lançou, em abril de 2021, o programa Unidos contra a Covid, que centralizou todas as doações feitas à fundação em um fundo único e criou uma rede de parceiros e apoiadores, das esferas pública e privada. Até setembro de 2021, a iniciativa captou cerca de R$ 500 milhões, doados por 130 instituições e 2,6 mil pessoas e provenientes de 20 Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) do Poder Judiciário. Esses recursos externos foram somados ao orçamento da fundação e ao crédito extraordinário do Ministério da Saúde, aprovado pelo Congresso Nacional. Algumas ações implementadas ajudaram a fortalecer a infraestrutura do SUS e ficarão como um legado para a sociedade no pós-pandemia.

Para Luis Fernando Donadio, gerente do Escritório de Captação da Fiocruz, a onda solidária foi muito além do esperado. “Logo no início, percebemos que haveria um movimento de doação, sem imaginar ou saber precisar o tamanho que ele teria”, constata. A onda de solidariedade fez com que a Fiocruz implementasse 17 ações em cinco eixos, em todos os estados do Brasil. As iniciativas permitiram ampliar a capacidade de testagem para a covid-19, fornecer assistência à saúde, conduzir pesquisas com foco na doença e apoiar populações em situação de vulnerabilidade, além de ajudar na produção da vacina. No final de 2020, o reconhecimento público veio pela escolha da Associação Brasileira de Captação de Recursos (ABCR) que elegeu o Unidos contra a Covid como um dos mais bem-sucedidos programas de combate ao novo coronavírus.

Donadio salienta que a Fiocruz tinha parcerias de menor investimento com a iniciativa privada, que foram incrementadas com o aumento da participação social. Segundo ele, o movimento dos doadores foi mais forte em 2020, depois diminuiu até ser retomado em março e abril de 2021 com o crescimento dos indicadores da fome. “Vivemos várias tragédias dentro de uma tragédia maior e isso foi gerando uma série de cenários pontuais de subida e descida de contribuições”, afirma. As iniciativas são diversas: vão desde um aniversário de 10 anos, com presente revertido em valores para a Fiocruz, até doações corporativas e campanhas internas promovidas por funcionários, lucro na venda de produtos, maratonas, corridas automobilísticas virtuais, lives, campanhas de times de futebol, entre outras ações. “Não é só o recurso pelo recurso, é o engajamento social numa ação que se propõe a ser gratuita e que tem a participação ativa da sociedade”, ressalta o gerente.

Um ponto importante que Donadio destaca é que o programa trouxe novas fontes de investimento, não só para a instituição. “Fiocruz, Butantan, Incor e Inca mobilizaram valores expressivos e foram fortalecidos por campanhas e fundos emergenciais criados em apoio a projetos públicos de saúde”, observa. Dados do monitor de doações da ABCR apontam que cerca de 45% dos R$ 7,1 bilhões doados no Brasil como resposta à covid-19 por quase 740 mil doadores foram direcionados por empresas, fundações, indivíduos e Poder Judiciário a projetos ligados a instituições públicas. A área da saúde ficou com a maior parte, com 73% das doações. 

Donadio lembra que o Brasil não tem tradição na captação de recursos no campo da ciência e tecnologia como um importante instrumento de sustentabilidade. “Fica como legado a percepção social do papel que a Fiocruz e essas instituições de referência nacional e mundial possuem. Caso elas recebam mais recursos, podem fazer muito mais”, avalia. Ele cita o exemplo do fundo de pesquisa do Instituto Pasteur, na França, como caminho a ser seguido por instituições públicas nacionais. “É um grande desafio internalizar caminhos legais para estimular parcerias e doações, pois isso requer uma mudança cultural”, observa. 

Apoio e legado

O Unidos contra a Covid atendeu às demandas da Fiocruz e fortaleceu de forma permanente outras frentes do SUS. Com os recursos que chegaram por meio das doações, a Fiocruz implantou duas Unidades de Apoio ao Diagnóstico da covid-19, uma no Campus Manguinhos, no Rio de Janeiro, e outra no município de Eusébio, na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará. Essas unidades são estruturas automatizadas dotadas de equipamentos que permitem ampliar o processamento dos exames de pacientes com suspeita da doença, e têm capacidade que chega a 25 mil testes moleculares e 10,8 mil testes sorológicos por dia. Foram também estabelecidas duas plataformas de diagnóstico molecular da covid-19, com 12 mil testes moleculares por mês, para atender à população de Amazonas, Roraima, Rondônia e Bahia. As quatro unidades passam a fazer parte da rede de diagnóstico laboratorial do SUS.

Outro destaque foi o barco-laboratório que vai circular na Região Amazônica e fez sua primeira expedição científica no início de agosto. Com capacidade para até 30 pessoas, a embarcação deve ampliar o número de atendimentos e de testagem para covid-19 na região do Alto Solimões, na Tríplice Fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. “Fiquei muito emocionado. Eu vi o início de uma viagem que começou meses antes e que agora vai rodar o Amazonas fazendo testagem, análise genômica e formar profissionais de saúde indígena”, lembra Donadio. O Amazonas foi ainda apoiado com a distribuição de cinco usinas de produção de oxigênio, cada uma com capacidade para suprir uma unidade hospitalar com 12 leitos de terapia intensiva e 80 leitos de internação e pronto atendimento.

Uma parte dos recursos também foi dirigida para incorporar a produção do ingrediente farmacêutico ativo (IFA), de modo a tornar o Brasil autossuficiente em todas as fases do processo de produção da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. Para isso, foi necessário realizar a expansão da infraestrutura do Centro Henrique Penna (CHP) do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), onde ocorre o processo de nacionalização da vacina. 

Outra parte dos recursos também foi utilizada na construção do Centro Hospitalar para a pandemia de Covid-19 do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), no Rio de Janeiro: diferentemente dos hospitais de campanha, instalados temporariamente para ações em períodos de crise, a unidade é uma construção permanente para o Sistema Único de Saúde. No novo centro, também serão conduzidos estudos clínicos com o intuito de viabilizar tratamentos e formas de prevenção à covid-19 e outras doenças infectocontagiosas. 

Durante todo o período, uma das linhas importantes foi a de apoio humanitário que contemplou a entrega de 75 mil cestas básicas para moradores de favelas do Rio de Janeiro. Também foi destinado o suporte a 152 projetos sociais em todo o Brasil por meio do Edital de Apoio Emergencial a Populações Vulnerabilizadas, apoio à população em situação de rua com 15 mil refeições, distribuição de 20 mil kits de higiene e ação para gerar renda com a contratação de costureiras para confecção de máscaras, entre outros. Veja mais resultados do programa Unidos Contra a Covid-19 em: https://unidos.fiocruz.br/#o-programa.

Pesquisa e assistência a bordo 

O rio é uma via de transporte fundamental para as populações na Região Amazônica. E foi em um barco-laboratório que pesquisadores e técnicos do Laboratório de Virologia do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) embarcaram, em 3 de agosto, rumo à região do Alto Solimões, na Tríplice Fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, para testar populações que vivem em áreas remotas. Ao todo, foram sete dias de viagem e 156 horas de navegação. O barco-laboratório saiu de uma marina privada, em Manaus, e viajou cerca de quatro horas até chegar ao Porto de Tabatinga, a 1,1 mil quilômetros da capital, o primeiro ponto da expedição científica. 

A embarcação é fruto de doações feitas ao Unidos contra a Covid. Ela é a base de apoio do sistema de detecção da doença e vai armazenar as amostras coletadas, agilizando a entrega dos resultados de testes de covid-19. Antes da expedição, os testes realizados na região tinham que ser enviados para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), em Manaus, e os resultados saíam em até 20 dias. No porto, os pesquisadores coletaram amostras e treinaram a equipe do Laboratório de Fronteira (Lafron), sediado em Tabatinga, para implantação de RT-PCR para covid-19. A embarcação tem capacidade para até 30 pessoas e possui toda a regulamentação e a infraestrutura básica necessária de alojamento e apoio, incluindo área de treinamento e capacitação de agentes de saúde. De acordo com o site da Fiocruz Amazônia, os exames realizados vão auxiliar os cientistas a identificar quais linhagens do vírus circulam na região do Alto Solimões.

O curso sobre estratégias para o combate à covid-19, realizado pela equipe técnica do QualificaSUS, é dirigido a Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) e Agentes de Combate às Endemias (ACEs), no município de Atalaia do Norte (AM). A essa iniciativa do barco-laboratório é possível somar a instalação de usinas de produção de oxigênio para o sistema público de saúde do Amazonas e o envio de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e insumos para a população indígena. Além disso, houve o fortalecimento da pesquisa de Vigilância Genômica do Sars-CoV-2 no Amazonas, com a aquisição de sequenciadores que permitirão entender melhor a rota do vírus e estabelecer a infraestrutura em laboratórios de pesquisa no estado.

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