Cláudia Vieira recebe as edições de Radis desde a época de sua graduação em Educação Física, entre 2002 e 2006, pela Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Moradora de Teresina, ela se recorda do tempo em que não tinha recursos para assinar periódicos e que o acesso aberto ainda era raro. Ao descobrir a revista pela internet, interessou-se pelo conteúdo e ficou satisfeita em constatar que receberia o exemplar em sua casa gratuitamente. “Desde então, recebo todos os números da Radis”, comenta a hoje doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e professora de educação física do Instituto Federal de Educação do Maranhão (IFMA — campus Pedreiras).
O envolvimento em vários projetos da universidade enquanto ainda cursava Educação Física instigou-a a ser mais criativa e, com o tempo, ela passou a buscar formas de partilhar o conhecimento adquirido. No contato com a sala de aula, percebeu a carência de materiais complementares para trabalhar com os alunos e, assim, a professora começou a utilizar a Radis como ferramenta pedagógica. “Uso diversos conteúdos publicados na revista — saúde do homem, saúde dos indígenas, exclusão social, fome, determinantes da saúde, entre outros — como instrumento pedagógico interdisciplinar e transdisciplinar. Como exemplo, recorto páginas que contenham matérias de interesse para abrir discussões entre os alunos”, relata.
Cláudia também transforma as páginas da revista em quebra-cabeças e as peças são disponibilizadas para os grupos de alunos, que devem montá-los em um tempo determinado. Segundo ela, por se tratar de uma aula de educação física, a montagem é pensada como estratégia para estimular exercícios motores e de raciocínio. E ainda como prática interdisciplinar, discute com os alunos sobre os temas retratados nas páginas que compõem o jogo.
Apesar de atualmente ser professora de estudantes do Ensino Médio, Cláudia já passou por outras instituições, trabalhou com outras faixas etárias e, com crianças, utilizou exemplares da Radis para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da coordenação motora fina [que se serve de pequenos músculos, nas mãos e nos pés, para manusear objetos e atividades como recortar e costurar].
Os próprios alunos produziam recortes para painéis temáticos, reunindo, por exemplo, palavras que relacionassem os benefícios proporcionados pela prática de atividades físicas. A professora acrescenta que atividades que não seriam usualmente realizadas no Ensino Médio foram introduzidas justamente porque “com as mudanças tecnológicas, os alunos se movimentam cada vez menos” — e as dificuldades motoras se tornaram muito presentes nessa faixa etária. “Um exemplo: pular corda para gerações passadas era uma atividade muito corriqueira. No entanto, quando eu peço para que nossos alunos do Ensino Médio façam isso, a maioria não consegue porque não tem mais esse hábito. Não existe mais no ambiente deles brincadeiras que proporcionem a melhoria das habilidades motoras”, complementa.
E por falar em brincadeiras que movimentam, a professora cita outras atividades em que os exemplares de Radis são utilizados. Uma delas é chamada de rabo de galo (o nome pode variar de região para região): a revista é recortada e o aluno coloca uma tira na parte de cima da roupa, que se transforma em algo parecido com um “rabo de galo”, e em duplas, um tenta pegar a tira do outro. Outra atividade é a competição em estafetas: “A gente coloca duas folhas de revista e cada aluno vai ter que transpor um espaço delimitado, de um lugar a outro, pisando em cima de uma folha e depois colocando a outra à sua frente, com alternância, até chegar ao final. Ganha quem conseguir concluir primeiro sem rasgar o papel”, descreve.
Ela conta que desenvolveu essas formas de utilização das revistas por conta da dificuldade enfrentada pelas escolas de possuírem materiais complementares para a execução da disciplina educação física. “Quando as escolas têm, muitos são apenas materiais esportivos e eu procuro não inserir apenas esportes nas minhas aulas, mas variadas atividades motoras”, conclui Cláudia, que também é coordenadora de um projeto de dança no IFMA.
Além dos variados exemplos de utilização de Radis no ambiente escolar, a professora destina as revistas que sobram para se transformarem em recursos educacionais no projeto Brincando com Livros, no bairro de Pedra Mole, região periférica de Teresina. Com oito anos de funcionamento, a organização atende 35 crianças e adolescentes entre 5 e 15 anos, com o objetivo de incentivar a leitura infantil e infanto-juvenil. Diante de todas as possibilidades de utilização dos exemplares da publicação após a sua leitura, Cláudia reconhece com satisfação que “Radis não é somente uma revista que dissemina conhecimento, mas se tornou um instrumento com poder educacional e ambiental para muitos além de mim”.