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Nossa matéria de capa é com a escritora, poeta, professora e ativista indígena Eliane Potiguara, que expressa em suas “contações de histórias” as falas e vivências de suas avós e “das avós das avós das avós”, a ancestralidade indígena feminina. Precursora da presença indígena feminina na literatura, Eliane, que é formada em Letras, recebeu prêmios internacionais e o título de doutora honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Eliane foi também pioneira na participação feminina na organização do movimento indígena brasileiro nos anos 1970, junto às lideranças masculinas, e está ao lado das novas lideranças femininas nas mobilizações recentes, como a Marcha das Mulheres Indígenas de 2023, em Brasília.

A entrevista conduzida por Luiz Felipe Stevanim nos revela a bela trajetória da filha de família indígena expulsa da Paraíba e migrante pobre no Rio de Janeiro. Em 1976, ela fundou um coletivo de mulheres indígenas que lidava com as violações de direitos originários das mulheres, saúde reprodutiva e o papel da educação. Viajou pelo país, “falou sobre liberdade e questões de gênero em plena ditadura militar, recebeu ameaças de morte, não desistiu”, resume Luiz.

Eliane casou-se com o cantor e compositor Taiguara, uruguaio radicado no Brasil, um dos artistas mais censurados pelo governo militar. Em 2005, foi indicada para o Projeto Internacional “Mil Mulheres pelo Prêmio Nobel da Paz” e, em 2011, nomeada Embaixadora Universal da Paz em Genebra.

Radis tem refletido sobre os 21 anos de ditadura civil-militar num contexto em que o golpe de 1964 completa 60 anos sob um misto de saudosismo, indiferença e omissão sobre aquele período de ruptura da ordem democrática, terror de Estado, retrocessos e silenciamento no país.

Nesta edição enfocamos impactos da ditadura em relação às pessoas LGBT. Reportagem realizada por Adriano De Lavor e Luíza Zauza contextualiza a opressão peculiar vivida entre 1964 e 1985 por essa parcela significativa da população brasileira. Não há como falar de saúde coletiva sem levar em conta a garantia do direito à vida digna e saudável, com liberdade de expressão e proteção contra preconceito, perseguições e violências.

Muitas formas de arbitrariedade e violência ocorriam: estímulo à discriminação, marginalização social, repressão com batidas policiais, agressões gratuitas, prisões ilegais e humilhações nas cadeias pela simples presunção de homossexualidade. O medo, a invisibilidade e a vulnerabilidade marcaram fortemente a vida dessas pessoas. A simples tentativa de reivindicar direitos já resultava em vigilância, perseguição e repressão.

O presidente da Câmara de Deputados, Arthur Lira, obteve urgência para votar em Plenário, sem discussão nas comissões nem com a sociedade, o Projeto de Lei nº 1904, que pretende tornar crime passível de prisão de até 20 anos a realização por mulheres e crianças do aborto previsto em lei após a 22ª semana de gestação, o que é permitido no Brasil desde 1940.

A reação contrária foi imediata nas redes sociais, em grandes manifestações de rua e com 87% de rejeição ao PL na consulta pública da Câmara. O estranho PL é um perigoso estímulo aos pedófilos, abusadores e estupradores que diariamente violentam milhares de mulheres, majoritariamente crianças e adolescentes. É hora de o país discutir a legalização do aborto como uma questão de saúde pública e de respeito ao direito de decisão das mulheres.

Há uma renovação na Radis. A partir da revista de julho, Glauber Tiburtino substitui Ana Cláudia Peres como subeditor. Retorna à reportagem da Radis o experiente jornalista Jesuan Xavier, que participou da construção da revista em seus primeiros anos. A repórter Liseane Morosini também vai nos deixar. Às queridas Ana e Lise, agradecemos o companheirismo e a valiosa contribuição por mais de dez anos e desejamos sucesso nos novos desafios profissionais e pessoais.

Outra novidade é que superamos as dificuldades nos contratos de gráfica e correios e estamos retomando a regularidade na entrega da revista no endereço de cada uma das mais de 100 mil pessoas e instituições que assinam a Radis. Pedimos que mantenham seus dados e endereço atualizados e nos avisem em caso de dificuldades na entrega pelos Correios. Ver os leitores postando nas redes sociais as fotos da chegada das novas edições nos alegra demais. É a reconquista da periodicidade que sempre foi uma marca e um orgulho da publicação jornalística mais tradicional e combativa em defesa do SUS e da saúde coletiva no país.

Rogério Lannes Rocha, coordenador e editor-chefe do Programa Radis

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