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De barco, a cavalo ou a pé. Não importa se é preciso atravessar uma ponte estreita ou cruzar um córrego que transbordou com a enchente. O esforço dos profissionais de saúde para que a vacina contra a covid-19 chegue à população brasileira mostra a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) de alcançar os locais mais remotos do país. Radis pediu aos leitores que enviassem registros fotográficos marcantes da vacinação pelo Brasil. As imagens — que revelam a superação das dificuldades provocadas pelas desigualdades no país — são como doses de esperança em um momento em que o Brasil vive um aumento recorde no número de casos e mortes pela covid-19 e a ciência indica que somente a vacinação ampla da população pode ser a saída da pandemia.

Viajar em um carro com tração 4×4, caminhar mais um trecho em declive íngreme e atravessar uma “pinguela” — nome que se dá a uma ponte rústica de madeira. Todo esse caminho foi trilhado pelo enfermeiro Rafael Teixeira, que trabalha com vigilância epidemiológica e é mestrando em Informação e Comunicação em Saúde pelo Icict/Fiocruz, para aplicar a vacina contra a covid-19 em um idoso de 88 anos, morador de uma região conhecida como Sertão do Sinfrônio, localidade do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro.

Em Juazeiro do Norte, município cearense da região do Cariri, a vacinação drive-thru também tem espaço para uma carroça. A técnica em enfermagem Edilânia Feitosa não hesitou em subir no veículo e imunizar o condutor idoso. Segundo Karisia Caldas, farmacêutica que integra a equipe, a vacinação envolve momentos de acolhimento, como no dia em que os profissionais de saúde identificaram uma idosa, na fila, que fazia aniversário e cantaram parabéns para ela. Outro momento emocionante, descreve, foi a chegada de uma Kombi da zona rural da cidade “recheadinha de idosos” para vacinar.

No meio do caminho havia um córrego. Mas ele não foi um obstáculo intransponível para a enfermeira Lucilene Schultz e as agentes de saúde Elza de Oliveira e Jucilene Leida fazerem a vacina chegar até Dona Palmerina da Conceição Souto, de 93 anos, em Colatina, no noroeste do Espírito Santo. Moradora da comunidade de São Gabriel de Baunilha, a idosa aguardava a segunda dose do imunizante e ficou feliz com a chegada da equipe de Saúde da Família. As fortes chuvas na região haviam danificado as estradas e o acesso à casa de Dona Palmerina só foi possível ao atravessar um córrego que transbordou com a enchente.

Ao longo de boa parte de sua vida, a sergipana Iracema Oliveira Rodrigues fez algo que amava: vacinar crianças e adultos em uma unidade de saúde do SUS, no município de Estância, no interior de Sergipe. Atualmente aposentada, com 77 anos, ela se emocionou ao retornar à mesma unidade em que trabalhou como auxiliar de enfermagem para receber a dose da vacina contra a covid-19. Segundo seu filho, Helmir Rodrigues, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a emoção da mãe é um misto de alegria por chegar a sua vez e por ser vacinada no local em que trabalhou com tanta dedicação no cuidado em saúde da população e também tristeza porque muitos e muitas ainda não foram imunizados.

O mestre de capoeira Júnior Aranha, da Escola de Capoeira Nova União (ECNU), em Natal (RN), é também agente de combate a endemias (ACE). Ele recebeu a primeira dose da vacina de Oxford/AstraZeneca em março e ressaltou que, ao contrário do que ocorreu em 1904 com a Revolta da Vacina, a população hoje conta com informações suficientes para saber que vacinas protegem e salvam vidas.

Em Jaboatão dos Guararapes, município da Região Metropolitana do Recife, a sanitarista e residente em Saúde da Família Rita de Cássia Franciele registrou o percurso da equipe de vacinação até a casa de idosos com mais de 85 anos e acamados.

No drive-thru montado no Parque da Medianeira, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, a cena de um idoso em uma carroça contrasta com os carros que também aguardam na fila para a imunização.

Considerado o primeiro quilombo urbano do Nordeste e o segundo do Brasil, o Terreiro Xambá do Quilombo do Portão do Gelo, em São Benedito, em Olinda (Pernambuco), recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 em um dia simbólico: 20 de março, Dia Mundial de Luta pela Eliminação do Racismo. “Acreditamos que se todas as pessoas se conscientizarem, independente da religião, podemos vencer essa pandemia”, afirmou o babalorixá Ivo de Xambá, o primeiro a receber a dose, também Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), primeiro representante de religião de matriz africana a ter esse reconhecimento acadêmico no estado.

Dona Maria de Lourdes de Jesus, 72 anos, passava de carroça com seu filho no povoado de São Geraldo, no município de Trindade, em Pernambuco, quando avistou a equipe de vacinação, que fazia a varredura casa a casa dos idosos a serem imunizados. Perguntou quando seria a vez dela e obteve a resposta que já podia ser vacinada naquele momento. Satisfeita, recebeu a primeira dose em cima da carroça mesmo, pelas mãos da enfermeira Soraya Buana, e agora já tem a caderneta atualizada aguardando a próxima dose.

Na zona rural de Palma, município mineiro de pouco mais de 6 mil habitantes, a agricultora e dona de casa Maria José Stevanim, de 71 anos, recebeu a visita da equipe de Saúde da Família e a primeira dose da vacina contra a covid-19 pelas mãos do técnico em enfermagem Jônatas Carvalho. “Estão vacinando de casa em casa. Com muita alegria tomei hoje a minha dose”, conta.

Na zona rural do município de Dilermando de Aguiar, no Rio Grande do Sul, José Milton Mello de Oliveira, de 69 anos, recebeu a vacina em cima de um cavalo. “A vacina representa a esperança, responsabilidade e a ciência”, afirma Michele Stribe, profissional de enfermagem da equipe de Saúde da Família que aplicou a dose.

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