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Em 2025, o Rio de Janeiro foi consagrado como Capital Mundial do Livro e recebeu a 22ª edição da Bienal do Livro. Ao longo de duas semanas, mais de 740 mil pessoas circularam pelo evento, resultando na venda de 6,8 milhões de exemplares — um crescimento de 23% em relação à edição anterior, realizada em 2023.

Com painéis, palestras, sessões de autógrafos, estandes de diversas editoras e uma variedade de títulos para todos os gostos, a Bienal apresentou pela primeira vez o conceito de Book Park. O Riocentro, segundo maior centro de convenções da América Latina, se transformou em um grande parque literário, onde histórias ganharam vida por meio de atividades culturais, experiências imersivas e programação interativa para todas as idades. A proposta reforçou o caráter democrático, inclusivo e diverso do evento, que conseguiu atrair um público variado e oferecer uma experiência única.

Um dos momentos mais aguardados da Bienal ocorreu logo na abertura, em 14 de junho, com a presença da escritora feminista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em uma conversa mediada pela atriz Taís Araújo. Reconhecida mundialmente por seu olhar crítico e sensível sobre questões de gênero, raça e identidade, Chimamanda tem suas obras traduzidas para mais de 50 idiomas e é considerada uma das vozes mais influentes da literatura contemporânea. Suas palestras e livros, que transitam entre o romance e o discurso social, inspiram leitores ao redor do mundo, tornando sua participação um dos pontos altos desta edição da Bienal.

“Quanto dos sonhos de uma mulher são realmente seus?”

Chimamanda Ngozi Adichie, em “A Contagem dos Sonhos”

Durante a conversa, Chimamanda contou que ainda jovem foi convencida por seus professores a estudar medicina — devido à crença popular de que bons alunos deveriam se tornar médicos. Ela chegou a planejar seu futuro na área de psiquiatria, imaginando que poderia usar as histórias de seus pacientes como inspiração para seus livros. No entanto, após um ano e meio de estudos, a frustração por não estar seguindo sua verdadeira paixão a levou a abandonar a medicina e se dedicar integralmente à escrita. A autora afirma que, mesmo se não tivesse nenhum reconhecimento, ela continuaria escrevendo, por acreditar que a escrita é sua verdadeira vocação.

“Mesmo que eu não tivesse livros publicados e essa comunidade linda, eu ainda estaria escrevendo. Eu provavelmente estaria num quartinho em algum lugar onde ninguém me conheceria, mas estaria escrevendo. É definitivamente uma necessidade. Eu escrevo porque preciso escrever.”

Ao definir sua produção literária como uma necessidade, “um talento herdado dos ancestrais”, Chimamanda vê na escrita não apenas um trabalho, mas um ato de conexão com suas raízes e de expressão de sua visão de mundo. Por meio da ficção, a autora aborda temas urgentes e relevantes para a sociedade contemporânea, como desigualdade de gênero, racismo e identidade cultural. Seu romance mais recente, “A Contagem dos Sonhos”, retrata quatro mulheres de origens, classes sociais e personalidades distintas, cujos desejos, traumas e anseios se entrelaçam, compondo uma narrativa sensível e profunda que revela a complexidade, as contradições e a força das experiências femininas.

A participação de Chimamanda na Bienal do Livro Rio 2025 reforçou a importância de eventos literários como espaços de troca, reflexão e inspiração. Entre falas potentes, a autora deixou claro que a literatura continua sendo uma ferramenta transformadora, capaz de atravessar fronteiras e conectar pessoas ao redor do mundo. No palco do Riocentro, sua presença foi mais do que uma atração: foi um convite para que o público olhasse para as histórias com mais sensibilidade e empatia.

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Comentários para: Bate-papo com Chimamanda Ngozi Adichie

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