Em um diagnóstico preciso e contundente sobre a contemporaneidade, Sonho manifesto: dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico (Companhia das Letras), o mais recente livro do cientista Sidarta Ribeiro, parte de um paradoxo sobre a existência humana que se atualiza nos dias de hoje. A humanidade, que se afirmou como espécie dominadora do planeta por meio da violência e da opressão, também é capaz de muito altruísmo e cuidado — paradoxo que o escritor analisa e aprofunda em forma de manifesto. Longe de ser apenas um registro dos riscos que desafiam a existência da própria humanidade (fome, aquecimento global, violência política e desigualdades acentuadas pela covid-19), Sidarta propõe, a partir de fontes variadas, uma reflexão sobre as nossas origens como um caminho de (re)construção. “Estamos presos numa armadilha evolutiva infernal que parece sem saída”, adverte, sinalizando que estamos vivendo “a era da destruição de qualquer futuro”, ao mesmo tempo que “vivemos também a era da criação de qualquer futuro”.
Ao situar o tempo presente nesta encruzilhada epistemológica, ontológica e aparentemente pessimista, o pesquisador aponta saídas que podem nos salvar das “piores profecias sobre nós mesmos”. “Só o que pode nos salvar é a percepção aguda da urgência deste momento — e a decisão de mudar”, convida o escritor, numa narrativa concisa, clara e didática. Um sonho acordado que desvenda as armadilhas do presente e antecipa saídas para possíveis labirintos que possam aparecer no futuro.
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