Nesta edição, Radis trata do uso de psicodélicos na medicina. Um tema polêmico, que tem produzido muito ruído nos dias atuais, já que mexe com mudanças ideológicas e culturais da população. “Renascimento psicodélico”, propõe o neurocientista Sidarta Ribeiro, entrevistado pelo repórter Luiz Felipe Stevanim, quando avalia os benefícios dos chamados “psicodélicos” para a saúde.
O cenário atual no Brasil acena para uma longa batalha entre ciência e preconceito, que levará para a área jurídica a autorização desse “renascimento”. Exemplo disso está na luta de centenas de famílias de pacientes, com síndromes diversas, que comprovadamente se beneficiariam com os princípios ativos da Cannabis (maconha), mas que só recentemente conseguiram uma meia vitória, com a liberação do uso pela Anvisa. Permanece, no entanto, a proibição para o cultivo, o que os obriga a importar o produto com altos custos.
A liberação do uso da Cannabis, assim como de outros psicoativos para uso medicinal, também esbarra em interesses comerciais, econômicos e na quebra de paradigma de crenças limitantes, em que se acredita mais naquilo que se quer do que naquilo que se enxerga, seguindo ideologias vigentes. É claro que a administração de substâncias psicoativas exige cuidados para minimizar efeitos colaterais agudos, e sobretudo, não deve estar em mãos erradas, com intenções erradas e orientações erradas, para que sejam verdadeiramente benéficas e eficazes.
Respeitar o Estado de Direito, que implica respeitar o direito à liberdade para o uso medicinal da maconha e de outros psicodélicos, contribuiria para a retirada da produção e do comércio de grupos que nada têm em comum com os resultados medicinais esperados. Esta liberdade transferiria para o Estado brasileiro o cumprimento de um importante papel de controle organizado.
Na entrevista, Sidarta, além de trazer elementos para um novo olhar para os psicodélicos, também fala da bioquímica dos sonhos, seus significados, sua importância no entendimento do que se vive na vigília e os benefícios para saúde e educação. Vale a pena conferir
O 7º Congresso Brasileiro sobre o Uso Racional de Medicamentos (CBURM) discutiu a importância do uso racional de medicamentos e os riscos da automedicação, o que resultou na “Carta de Brasília” — publicada nesta edição —, em que são elencados 29 pontos que corroboram as normas da OMS de foco no acesso e no uso racional dos medicamentos.
Os remédios têm sido tratados como bens de consumo e seu uso inadequado ou indiscriminado pode ser prejudicial à saúde de quem os consome. Impressiona o número de farmácias abertas nas grandes cidades do Brasil nos últimos anos. Isto facilita a pressão da indústria farmacêutica, do mercado de varejo e do profissional habilitado para prescrever, ao mesmo tempo que mostra a inequação do sistema de saúde. Também a própria população, por falta de informação, ou por estar desassistida, acaba “consultando” a internet ou comprando o que lhe é indicado por leigos, na tentativa de resolver seus problemas.
Na contramão do excesso, existem inúmeros pacientes que até conseguem consultar um médico, mas não conseguem obter os medicamentos prescritos — por não estarem disponíveis no Programa Farmácia Popular, que só disponibiliza medicamentos considerados essenciais. Mesmo estes, frequentemente estão em falta.
Recentemente, mais um desastre afetou o meio ambiente e a vida de milhares de pessoas. O óleo derramado no litoral brasileiro comprometeu não só a vida marinha do oceano e de manguezais, como a subsistência de quem vive da pesca, da mariscagem e do turismo. Nesta edição Radis mostra o mapa das cidades litorâneas afetadas e pesquisas que identificaram a origem do óleo, mas não os responsáveis. Mais um crime que poderá ficar sem punição, a exemplo de Mariana e Brumadinho.
A Fiocruz chegou a Antártica, junto com a reinauguração da Estação Brasileira, que se perdeu no incêndio há 8 anos. Agora os pesquisadores não precisarão esperar para processar amostras coletadas. O laboratório inaugurado permitirá que isto aconteça de imediato, o que contribuirá para facilitar importantes pesquisas. É o berço da Ciência desbravando outros mares e chegando no gelo. Radis deseja sucesso para esta nova conquista de nossa ciência.
No Pós-Tudo desta edição, a professora Rita Almeida mostra como o SUS está presente na vida de todos os brasileiros, mesmo quando não percebido. Num país com tantas desigualdades, manter um sistema público, igualitário e equânime é um desafio enorme que precisa ser alcançado e que requer a mobilização de toda a sociedade para que se cumpra o que determina a Constituição de 1988. A saúde precisa ser verdadeiramente para todos.
■ Justa Helena Franco, Subcoordenadora do Programa Radis
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