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Um laço, uma cor e um mês que, somados, sintetizam uma discussão. Além de servir de alerta para os grupos em situação de risco, como no caso do câncer de mama e câncer de próstata, e como momento de visibilidade e conscientização para outras questões de saúde, como o autismo, campanhas que atrelam cores a meses do ano trouxeram ao debate público temas muitas vezes silenciados. É o caso de iniciativas como “Setembro amarelo”, com a promoção da vida e a prevenção do suicídio, e “Dezembro vermelho”, que promove ações de conscientização e solidariedade às pessoas que vivem com HIV/aids.

Entre as campanhas distribuídas ao longo do ano, a do “Outubro rosa”, no mês da conscientização e prevenção do câncer de mama, é uma das mais conhecidas. No começo dos anos 1990, a Fundação Susan G. Komen for the Cure, organização que luta contra o câncer de mama, distribuiu laços na cor rosa para participantes da Corrida pela Cura, em Nova York. Hoje, o laço rosa lembra a quem vê que o mês é outubro e que a população — e em especial as mulheres — deve se prevenir contra o câncer de mama. Poucos anos antes, em 1988, foi criado o Dia Mundial de Luta contra a Aids, pela Assembleia Geral da ONU e pela Organização Mundial da Saúde. Em 1991, a luta ganharia um símbolo — o laço vermelho — e o mês no qual ocorre, dezembro, ficou conhecido no Brasil como “Dezembro vermelho”, quando se acentuam as ações de prevenção ao HIV e à aids.

Visibilidade na mídia

Instituições e empresas apoiam algumas dessas campanhas, que também garantem visibilidade na mídia. A Fundação Laço Rosa — instituição de apoio a mulheres com câncer de mama, na busca de direitos, promoção de autoestima e advocacy (processo de reivindicar ações para uma causa visando influenciar tomadores de decisões) — é uma das instituições que organiza eventos para celebrar o “Outubro rosa”, além de atividades relacionadas à discussão em outros meses do ano. O Instituto Nacional do Câncer (Inca), também investe em intervenções em diferentes meses relacionadas a diferentes tipos de câncer, como fez no lançamento do “Outubro rosa”, junto ao Ministério da saúde, em 2019. “Outras questões fundamentais para que avancemos no controle do câncer são a comunicação e as ações educativas. É por isso que estamos aqui hoje reunidos para lançar a campanha do “Outubro rosa”, que o Inca e o Ministério da Saúde prepararam para a nossa população”, declarou Ana Cristina Pinho, diretora-geral do Inca, durante o lançamento da campanha no Rio de Janeiro.

O crescimento deste tipo de estratégia de comunicação ultrapassou as fronteiras da prevenção e do combate a doenças e foi incorporada por diferentes campos da Saúde, como a conscientização sobre o lúpus, a fibromialgia e o Alzheimer, a importância da doação de órgãos e da amamentação e os riscos de acidentes de trânsito, entre outros. Entretanto, embora as ações tenham tornado os temas tratados mais presentes nas discussões públicas, outras nuances sobre as causas que defendem podem permanecer excluídas do debate, como alerta Igor Sacramento, pesquisador do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces/Icict) da Fiocruz.

Igor reconhece que as campanhas interferem no agendamento do próprio debate público, ressaltando que os temas precisam ser tratados de maneira contínua e sistemática, e não pontual. Além disso, ele chama atenção para a possibilidade de uma dimensão cíclica dessas campanhas. “A expansão da estratégia para quase todos os meses do ano me dá uma sensação de ciclo que acaba obliterando outras doenças”, avalia. O pesquisador exemplifica, advertindo sobre outros eventos que permanecem invisíveis, como o crescimento da sífilis entre os jovens e o sarampo entre crianças. “É preciso um trabalho contínuo em relação a essas múltiplas frentes. Eu não sei se eleger um mês para cada coisa, para cada evento adverso, transtorno ou doença, não esconde mais processos sociais e desigualdades sociais, e além disso leva a negligenciar outras doenças”, diz à Radis.

■ Estágio supervisionado

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