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Por muito tempo as mulheres lésbicas foram esquecidas ou relegadas aos rodapés da história. O movimento lésbico brasileiro, entretanto, esteve presente e ativo na luta contra a discriminação sexual e o autoritarismo moral da ditadura. Foi nesse momento histórico, inclusive, que a organização política de suas agendas ganhou contornos e floresceu. As ativistas e os coletivos denunciavam o patriarcado, que também se manifestava no comportamento dos homens gays e do movimento homossexual brasileiro, e direcionaram os holofotes para as necessidades e reinvindicações específicas das mulheres lésbicas.
Mesmo diante de um cenário de perseguição, pânico moral e tensões sociais, o movimento lésbico se posicionou com coragem. Desafiaram o discurso conservador e moralista da ditadura, as políticas de controle e vigilância social e a censura às narrativas que tratavam o amor e a sexualidade lésbica de forma positiva e vangloriosa.
Radis traz um breve panorama desse conjunto de ações de resistência, compilando figuras e momentos importantes de um legado invisibilizado.
No dia 15 de novembro de 1980, os bares Cachação, Ferro’s e Bexiguinha, na região central de São Paulo, notadamente conhecidos por serem espaços de sociabilização lésbica, foram alvos de batidas policiais. Cerca de 200 mulheres foram detidas indiscriminadamente sob o argumento de “ser sapatão”.
Considerada a primeira organização lésbica do Brasil, o Grupo Lésbico-Feminista (LF) foi formado no interior do Grupo Somos, primeiro grupo politicamente organizado de ativismo gay e lésbico, fundado em 1978.
Editado entre os anos de 1981 e 1987, ChanacomChana foi a primeira publicação lésbica do país. Contou com 12 edições e foi criada pela organização paulista Galf (Grupo de Ação Lésbica Feminista). O boletim era vendido pelas ativistas nos bares amplamente frequentados pelas lésbicas na região central de São Paulo. Seus informes, depoimentos, tirinhas, poesias, notícias e textos questionavam os estereótipos sexuais e de gênero e refletiam sobre a experiência lésbica e seu incipiente movimento organizado.
Considerada a primeira organização lésbica do Brasil, o Grupo Lésbico-Feminista (LF) foi formado no interior do Grupo Somos, primeiro grupo politicamente organizado de ativismo gay e lésbico, fundado em 1978.
Ocorreram na cidade de São Paulo, nos dias 4, 5 e 6 de abril de 1980, os primeiros encontros voltados para as discussões do movimento homossexual brasileiro. Apesar de em menor número, representantes dos coletivos lésbicos levaram ao debate o tema do machismo dos homens homossexuais e a necessidade de reconhecimento da lesbianidade nos espaços políticos.
Conhecido como “pequeno Stonewall brasileiro”, o ato político ocorreu em 19 de agosto de 1983, depois de uma série de tentativas de impedir o acesso ao bar, e após um episódio, em 23 de julho, quando as ativistas do Galf foram expulsas à força e com violência do Ferro’s. Em um protesto sob a liderança de Rosely Roth, militantes LGBTs, feministas, parlamentares progressistas e parte da imprensa alternativa se reuniram para reivindicar o local. O levante marca a primeira mobilização política das lésbicas no Brasil.
Nasce em decorrência do protesto no Ferro’s Bar
Pioneira na luta por direitos para as mulheres lésbicas, Rosely Roth foi ativista, esteve à frente do Levante do Ferro’s Bar e é uma das fundadoras do Grupo de Ação Lésbico-Feminista (Galf). Nasceu em 1959, na capital paulista. Formou-se em Filosofia e Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e era editora da publicação lésbica alternativa ChanacomChana. Rosely foi responsável por feitos inéditos como sua participação no programa de Hebe Camargo para discutir direitos e experiências da comunidade lésbica em horário nobre da televisão. Aos 31 anos, Rosely Roth se suicidou após alguns anos sofrendo com transtornos psicológicos.
Pseudônimo de Odette Rios, foi uma das escritoras brasileiras de maior sucesso editorial. Ficou conhecida como a “escritora maldita” pela ditadura militar brasileira, já que não só escrevia romances populares sobre erotismo e amor lésbico, mas também assumia sua sexualidade lésbica publicamente. Em 1970, bateu a marca de 1 milhão de livros vendidos, sendo a primeira autora brasileira a atingir esses números. Ao mesmo tempo, tornou-se a autora mais censurada do país: teve ao menos 36 obras proibidas durante sua carreira profissional. Cassandra nasceu em 1932 em São Paulo e faleceu em 2002 em decorrência de um câncer.
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