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O envelhecimento não é apenas uma cronologia pessoal, um momento da vida que cada um vive do seu jeito, do modo como quer, nem algo a ser evitado ou que possa ser conformado individualmente. Como outras etapas da vida, é uma experiência e condição coletiva e social também.

Com a pirâmide etária da população brasileira registrando um aumento considerável do número de idosos e uma tendência a um maior tempo de vida, somada à busca de uma velhice saudável, o tema do envelhecimento é hoje uma das principais questões da saúde coletiva.A revista Radis vem tratando desse tema em diálogo com quem pensa, estuda, cuida e trabalha com o envelhecimento na perspectiva da saúde coletiva e dos direitos humanos. Em nossas reportagens, temos ouvido especialistas, acompanhado e problematizado as discussões que ocorrem na academia, na atenção à saúde e nos fóruns participativos como as conferências nacionais de saúde — ambiente em que se destacam as pessoas que refletem sobre o envelhecimento a partir de suas próprias experiências e lutam coletivamente por seus direitos.

Assegurar direitos, acesso e atenção à saúde respeitando e adequando-os à diversidade é garantir equidade.

Pensar na saúde como um direito de todos requer adequar as políticas públicas de saúde e a estruturação e a atenção do SUS de forma a atender cada segmento da população de forma adequada às suas necessidades, levando em conta, respeitando e ajustando as ações conforme os seus contextos e condições culturais, de trabalho, renda, moradia, raça e gênero, dentre tantos processos de determinação econômica, ambiental e social da vida. Assegurar direitos, acesso e atenção à saúde respeitando e adequando-os à diversidade é garantir equidade.

Nesse mês de junho, marcado por campanhas dedicadas à conscientização para o enfrentamento à violência contra as pessoas idosas e pela 29ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, que celebra as pessoas 60+ da comunidade, reforçando a luta por dignidade e acolhimento, a nossa reportagem de capa traz um quadro e uma contextualização do universo de questões associadas ao envelhecimento para as pessoas LGBTQIAPN+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, pessoas queer, intersexuais, assexuais, pansexuais e não-binários, entre outras identidades).

O repórter Adriano De Lavor examinou dados de pesquisas e ouviu especialistas, profissionais de saúde, pessoas comuns e ativistas da causa dos direitos de pessoas LGBTQIAPN+, para nos colocar a par e comprometidos com o que revelam os estudos recentes sobre envelhecimento de pessoas não heteronormativas no Brasil, quais os reflexos da violência praticada contra esta população na saúde, quais as barreiras encontradas por usuários LGBT+ no acesso à saúde e quais são as lacunas que eles enxergam nas políticas e serviços do SUS. 

De certa forma, a experiência da velhice para essa população reproduz e acentua problemas e contextos adversos que já se faziam presentes ao longo da vida. Problemas que agora, em muitos casos, encontram as pessoas em condições de maior vulnerabilidade ou com maior dependência de uma rede social de apoio, nem sempre existente. Solidão, estigma, violência e falta de acesso à saúde são alguns dos principais desafios enfrentados por essas pessoas, sinalizam os entrevistados.

A reportagem mostra o reflexo dessas questões na vida de quatro pessoas — um homem gay, uma mulher lésbica, uma mulher e um homem trans — que contam como é enfrentar o desafio de envelhecer com saúde em um país marcado pela exclusão e pela desigualdade.

Para Alexandre Kalache, médico epidemiologista, pesquisador e uma autoridade em gerontologia no Brasil e no mundo, o que um profissional de saúde precisa para atender com dignidade à população LGBT+ com mais de 60 anos é “se auto educar”.

“Os preconceitos só podem ser vencidos por meio de reflexão, de introspecção, de discernimento, de empatia e da solidariedade”, diz Kalache. “Você não tem o direito de impor as suas ideias, seus preconceitos, as suas antipatias em relação a outro ser humano. A outra pessoa tem que ser tratada com a dignidade que você gostaria de ser tratado; de receber, quando necessita, um cuidado médico ou de saúde, um cuidado jurídico ou legal, enfim, um cuidado como cidadão. A questão é de cidadania. Mas sem introspecção, sem empatia, sem solidariedade, você vai acabar sendo um algoz de uma população já vulnerabilizada.”

Na seção Serviço desta edição, o leitor encontra indicações especiais de livros, séries e filmes que abordam temas relacionados à população LGBTQIAPN+ que passaram dos 60 anos: memórias da resistência, protagonismo e direitos, aids e envelhecimento, os corpos que resistem nas margens da cidade. 

Tenha uma boa leitura!

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