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Na contramão da crescente orientação “focalista” das especialidades na formação e prática da medicina, não raro associada ao uso intensivo de tecnologias caras e medicalização impulsionado por interesses de mercado, um significativo número de estudantes e jovens profissionais brasileiros vem reencontrando a função social de sua profissão ao atuar como médicos de Família e Comunidade.

Na 21ª Conferência Mundial de Médicos de Família, realizada em novembro, a repórter Elisa Batalha ouviu residentes e profissionais que se orgulham de cuidar das pessoas de forma integral, dentro de seu contexto familiar e comunitário, promovendo e acompanhando a saúde de cada um por períodos mais longos. Uma proximidade que permite até contribuir na busca de solução para reivindicações como mais e melhor acesso e interferir nos processos de determinação de saúde e doenças.

Do total de médicos no Brasil, 2% são especializados em Medicina de Família (ou Família e Comunidade), e representam 10% dos cerca de 40 mil médicos atuando em equipes de atenção básica. No Canadá, onde a atenção primária é que estrutura o sistema de saúde, este contingente chega a 40% dos médicos em atividade. Em Cuba, a formação médica tem como prioridade a promoção, a prevenção e a atenção integral no contexto das famílias e da comunidade. Na fala dos especialistas de Portugal, Espanha ou Egito, a mesma percepção: na Medicina de Família se percebe o adoecimento sistêmico das populações submetidas a políticas econômicas que degradam as condições de vida.

“Austeridade, ajuste econômico e cortes em políticas sociais matam gente, adoecem, fazem mal à saúde”, adverte o médico sanitarista Gastão Wagner, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Durante o 7º Congresso de Ciências Sociais em Saúde da Abrasco, realizado em outubro, logo após a aprovação pela Câmara de Deputados da Proposta de Emenda Constitucional 241 (renomeada PEC 55 no Senado), que visa o congelamento de gastos públicos por 20 anos, houve grande preocupação e revolta contra o ataque a direitos constitucionais por parte do governo e da maioria parlamentar. Na visão dos pesquisadores, trabalhadores e estudantes presentes, o desmonte do SUS e da Seguridade Social é inconstitucional, por ferir cláusulas pétreas da Constituição como o respeito à dignidade humana e o direito à saúde, e atinge de forma dramática a população.

Nesta edição, a terceira matéria da série sobre promoção da saúde trata da importância da atividade física bem orientada para melhorar o estado de saúde, prevenir doenças e promover qualidade de vida. Em outra reportagem, abordamos o hábito de buscar informações dobre doenças na internet. Pesquisa indica que 46% dos usuários no Brasil utilizam a rede à procura de informações e serviços sobre saúde em geral. Embora informação de qualidade dê mais autonomia ao cidadão e permita uma relação mais dialógica com os médicos, é preciso atenção para o perigo das informações infundadas ou alarmantes, do autodiagnóstico e da automedicação, quando não há orientação por parte dos profissionais de saúde.

Destacamos ainda, com depoimentos, análise de pesquisas e avaliações de especialistas e ativistas, a necessidade da ampliação da prevenção e do tratamento ao HIV/aids com estratégias complementares à prática do sexo seguro. A profilaxia pré-exposição para pessoas em risco considerável de se infectarem com HIV, recomendada pela Organização Mundial da Saúde desde 2014, estava prevista para ser implantada no SUS este mês, mas acaba de ser adiada para o próximo ano.

Rogério Lannes Rocha, Editor-chefe e coordenador do programa Radis

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