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  1. Editorial

A boiada avança sem pedir licença

A política antiambiental que vem sendo implementada no Brasil nos últimos anos, responsável pelo aumento de mais de 51% do desmatamento da Amazônia no período de 12 meses e pela degradação do cerrado, onde mais de 80% da vegetação nativa foi afetada pela plantação da soja, já põe em risco não só os biomas, mas também os povos tradicionais. A boiada (expressão consagrada em uma reunião ministerial) continua avançando graças ao desmonte da legislação de proteção ambiental, que fragiliza o monitoramento e a análise de impactos ambientais, por técnicos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação).

Projetos que dispensam o licenciamento de atividades com impacto ambiental, criam novo marco legal e promovem regularização fundiária com brechas para legalizar as invasões de terras públicas aguardam votação. Se aprovados, irão favorecer grileiros, garimpeiros, desmatadores, biopiratas, contrabandistas de madeira e outros que se unem agora no crime ambiental organizado, afetando gravemente populações ribeirinhas e indígenas, principalmente as que vivem isoladas, que sem memória imunológica estarão a mercê de todo tipo de doenças e correrão enorme risco de desaparecer.

As alterações climáticas, consequência direta de todas as agressões praticadas contra a mãe Terra, que provocaram enchentes, ondas de calor e incêndios em muitos países da Europa e em parte dos Estados Unidos, levaram autoridades europeias e americanas a advertir o mundo para os efeitos dessas mudanças e para o comprometimento com a luta contra o aquecimento global para impedir tragédias globais. Enquanto isso, no Brasil, nossas lideranças parecem caminhar em direção contrária, ignorando os efeitos da mais grave crise hídrica que o país passa em quase um século, consequência dos distúrbios provocados pelo aquecimento global, e que pode resultar em um apagão elétrico de imediato, o que colocará em risco o ritmo de retomada econômica do país, no momento em que o pós pandemia precisará ser um tempo de prosperidade e não de caos. 

Para falar sobre a esquistossomose, Radis ouviu especialistas que conhecem bem o ciclo da doença considerada a segunda doença parasitária mais devastadora socioeconomicamente do mundo, que contribui para a manutenção do quadro de desigualdade e exclusão social. Também conhecida como barriga-d’água, é uma doença da pobreza que persiste no Brasil sem água tratada e sem saneamento básico. Atinge os mais vulneráveis que convivem com esgotos a céu aberto e precárias condições de higiene.

As medidas preventivas para essa moléstia são bem conhecidas e implicam em soluções ambientais que não são prioritárias para quem governa cidades que abrigam as áreas mais pobres. A indústria farmacêutica tem pouco interesse em desenvolver métodos de diagnóstico mais eficazes e novos medicamentos para seu tratamento. A esquistossomose em sua fase mais avançada incapacita e até mata, assim como mantém milhares de brasileiros na invisibilidade, em um Brasil incapaz de enxergar as dores de seus filhos.

Em algumas cidades, Juliano Moreira é sinônimo de hospital que atende pacientes psiquiátricos. Mas Juliano Moreira, para além de emprestar seu nome para muitas instituições psiquiátricas, foi um homem negro, médico, pesquisador e intelectual que, ocupando um lugar de poder por méritos próprios, implementou políticas públicas inovadoras no campo da psiquiatria.

Para falar de Juliano Moreira, o jornalista da Radis Adriano De Lavor ouviu dois pesquisadores que traçaram um perfil do homem que, nas palavras de um deles, “democratizou a estrutura que humanizou o manicômio no Brasil” e questionou teorias racistas, sob a luz da ciência. São duas entrevistas que fazem justiça a uma figura que trouxe grande contribuição não só para o campo da psiquiatria, como o da saúde no geral, mas que acima de tudo foi um “terapeuta do afeto”, como definiu o médico e romancista Afranio Peixoto (1876-1947). 

Boa leitura!

Justa Helena Franco, subcoordenadora do Programa Radis
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