O tema ‘Saúde e Ambiente’ teve, durante muito tempo, pouco destaque no Brasil por conta da valorização da dimensão social, o que é compreensível em função das enormes desigualdades do país.
Hoje, a dimensão ambiental na agenda da saúde coletiva está crescendo, mas, no geral, ainda está atrasada e nossas respostas permanecem insuficientes.
Penso que falta ambição teórica para que tenhamos o mesmo protagonismo que tivemos em outros momentos, sobretudo com o desenvolvimento da saúde coletiva. Temos que conseguir colocar essa ‘dimensão ambiente’ no debate! Precisamos nos debruçar sobre esse tema e enriquecê-lo. Essa é uma grande contribuição que a área pode dar.
O Brasil foi muito relevante para o desenvolvimento da saúde coletiva. Para que isso pudesse acontecer, foi preciso que tivéssemos uma agenda acadêmica e uma agenda política muito forte. Mas como isso foi forjado nos anos 1970 e 1980, muito do que trabalhamos hoje ainda tem vinculação direta com essa formulação inicial, fundante. É importante que façamos um aggiornamento dessa agenda no qual uma das questões mais importantes é a climática.
“Se observarmos a magnitude dos problemas que temos, nossas respostas estão sempre muito atrás do que seria necessário”
Se observarmos a magnitude dos problemas que temos, nossas respostas estão sempre muito atrás do que seria necessário: ainda temos baixa capacidade preditiva no nosso sistema de vigilância; um modelo muito enrijecido, com dificuldade de mobilidade para o atendimento das demandas, o que aparece em situações de catástrofe; e um aparato limitado para enfrentar esses temas.
Precisamos fazer as atualizações, primeiro, do ponto de vista teórico. Temos de ter um crescimento muito mais vigoroso nessa área, com mais domínio metodológico e com mais formação vinculada a esses temas. Há, por exemplo, uma discussão recente sobre os conteúdos no âmbito das escolas de saúde que passa batida sobre a relevância da dimensão ambiental para a formação de profissionais da área de saúde.
Outra questão muito importante é a da tecnologia: precisamos ter um olhar para a tecnologia em sentido amplo, tanto naquilo que ela produz de solução quanto no que produz de problemas, gerando uma capacidade de extração dos recursos naturais em escala inédita na história.
Precisamos, também, de mais incentivo à nossa política editorial. É preciso estimular mais as revistas, pois elas também funcionam como formas de incentivo e fomento a publicações mais voltadas para as agendas que estamos discutindo aqui.
Embora a narrativa no sentido mais geral, seja dramática — e precisa ser assim: um alerta muito contundente! —, nossa capacidade de resposta está aquém do que precisamos, da potência transformadora que precisa ser liberada para que enfrentemos esse problema de forma adequada.
Acredito que 2025-2026 podem ser anos muito positivos para o Brasil em relação a isso! Há muitos incentivos nessa direção. A questão é saber se esses incentivos serão impulsionados pela COP30 e se esta vai ser capaz de deixar um legado mais permanente e robusto.
■ Rômulo Paes de Sousa é Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da FIOCRUZ (CEE/Fiocruz). Especialista em política, planejamento e gestão em saúde do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas) e pesquisador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA2030).



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