O Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), com seus 217 anos de existência, tem em seu Arboreto uma coleção viva e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em sua longa história, também como instituto de pesquisa, abriga muito mais do que a flora presente: promove ensino, pesquisa e conservação.
Logo na entrada, há um prédio imponente, na rua de mesmo nome. A construção, originalmente erguida para ser a sede do Jardim Botânico, existe desde o final do século 19 e abrigou o antigo Museu do Meio Ambiente, criado em 2008 para as comemorações dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil. No entanto, o prédio precisava de reformas e não contava com uma exposição permanente que abarcasse as pesquisas feitas pelo instituto. Em 2022, conseguiram o patrocínio da Shell Brasil, ele foi reformado e renasceu como Museu do Jardim Botânico.
Segundo Daniela Alfonsi, o museu tem a missão de ser “uma porta de entrada” para o visitante conhecer melhor o que é desenvolvido pelo Jardim Botânico. “É uma instituição bicentenária dedicada à pesquisa botânica, com várias fases. Tem muita história, além do conhecimento científico. Conta um pouco a história do nosso país. A gente entende melhor o que foi a colônia, do ponto de vista de introdução de espécies, de manejo, de exploração dessa natureza, das ações socioeconômicas. Também conhecemos um pouco a história da ciência no Brasil”, explica.
Uma das novidades do museu foi trazer uma exposição principal, de longa duração, que não havia no formato anterior. Para isso, formou-se uma comissão interna do Jardim Botânico, com todas as diretorias e equipes científicas representadas. A partir do patrocinador, foi escolhido o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) para gerir o museu, que é também responsável pelo Museu do Amanhã (RJ), do Paço do Frevo (PE) e, com inauguração prevista para outubro de 2025, antes da COP30, o Museu das Amazônias (PA).
Para Daniela, diretora do IDG para o Jardim Botânico, o que fez o museu acontecer em seu propósito não foi apenas o uso da metodologia de trabalho e capacitação, mas principalmente a união de todos os envolvidos, do engajamento interno de todos os setores do JBRJ de ter a compreensão do museu como “uma saída importante para o que se produz aqui, em termos de produção acadêmica, científica, das coleções, de coisas que sempre ficaram ali nos laboratórios e, que no museu, tem outra vida, voltada para um outro público”, afirma.
A integração entre os diversos setores tem potencial para transformar o museu em grande polo de divulgação das pesquisas do JBRJ, segundo Daniela. “Sempre fazemos a programação mais integrada possível. Tem o serviço de divulgação ambiental do Arboreto. E as parcerias com os setores que nem sempre são tão conhecidos como a Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBT), a própria diretoria de pesquisa e os seus laboratórios, o Centro Nacional de Conservação da Flora, que é o responsável pelos planos de ação de conservação da flora brasileira e lista as espécies ameaçadas. E temos o maior herbário do Brasil aqui”.
Além disso, outro ponto destacado por ela é que o museu se tornou um local para fomentar debates e a articulação com diversos órgãos de ciências e com outros pesquisadores. Um dos exemplos que cita é o Fórum de Biodiversidade. Criado em 2024, traz pesquisadores convidados, acontece em um dos espaços do museu e, ao mesmo tempo, é transmitido e fica disponível no canal do YouTube do Jardim Botânico. Os temas são sempre ligados à conservação, à flora, às questões climáticas e mais urgentes da pauta do meio ambiente no país.
A botânica é o eixo principal e, segundo a diretora, a missão do museu é a integração da pesquisa, do ensino e da extensão, mas com o propósito de amplificar a visão sobre a atuação do JBRJ em termos da pesquisa científica de ponta na área da botânica. “A botânica é a chave. A gente precisa também ter programações que falem das interações ecológicas, mas é por meio da botânica, da flora, que queremos sensibilizar os visitantes, que têm os mais diversos perfis: temos escolas, turistas, estrangeiros, idosos, pessoas frequentadoras do Jardim, pessoas que gostam de arte, entre outros”, explica.



Sensibilização dos visitantes
A exposição de longa duração do museu consiste em apresentar o Jardim Botânico às pessoas que o visitam; porém, na visão de Daniela, não deixa de ser um museu sobre a flora brasileira. Tanto para ela, quanto para Marinez Siqueira, que é diretora da Escola Nacional de Botânica Tropical e curadora científica do museu, uma ação fundamental é a educação ambiental voltada para escolas, famílias e públicos diversos que frequentam o museu. Segundo Marinez, na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2024, o museu recebeu 4 mil estudantes.
“O museu é esse lugar que consegue mediar o conhecimento para diferentes perfis de público. Muitas vezes uma ação científica está mais concentrada em um certo público, de especialistas, por exemplo. E o museu tem que conseguir traduzir essas diferenças e com isso levar o conhecimento para outras esferas”, afirma Daniela.
Para a diretora do museu, é uma chance também de dar um novo sentido à experiência de visita ao Jardim Botânico. “Deixa de ser apenas um lugar lindo e turístico do Rio de Janeiro e passa a ser um espaço importante para o nosso futuro, pensando que deixaremos de existir se as plantas acabarem. Aliás, só estamos aqui vivos porque elas existem há milhões de anos”, comenta.
As abordagens variam de acordo com o público, desde crianças a estudiosos de botânica —mas de todas as formas é possível criar uma conexão com aquele espaço. “Quando fazemos uma atividade voltada para bebês e seus responsáveis, buscamos criar uma conexão com esse ambiente. Mais tarde, quando essa criança estiver na escola, ela verá outra exposição, outra novidade. Porém, o tempo todo passamos a mensagem que a nossa flora é a mais rica do mundo e que a gente precisa conhecer para poder preservá-la. E o quanto a gente ainda está aquém do conhecimento que pode alcançar”, analisa Daniela.
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