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A curiosidade que está presente em nós, desde a infância, aflora em brincadeiras em que, vez ou outra, somos cientistas e fazemos experiências simples, sem mesmo precisar de muitos itens. Ou então, quando ficamos um pouco mais velhos e nos deparamos com respostas surpreendentes para assuntos que despertam o nosso interesse. Contudo, se temos a oportunidade de ver algo acontecendo de perto ou somos os protagonistas do fazer científico, uma semente pode ter sido lançada de forma mais eficaz.

Entre 14 e 20 de outubro, foi realizado o maior evento de popularização da ciência do país, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que em 2023 completou a sua vigésima edição. A iniciativa mobiliza escolas, universidades, museus, centros de pesquisas e outras instituições em todo Brasil. No Rio de Janeiro, na Fiocruz, por exemplo, houve a realização de diversas atividades, como apresentações de projetos, bate-papos sobre livros e exposições, além de visitas de estudantes de diversas escolas da cidade ao longo de toda a semana.

E é sempre durante a SNCT que a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) realiza a sua Feira de Ciências, com as ações da 3ª edição concentradas no dia 19 de outubro. A escola — que oferece ensino médio integrado ao técnico nos cursos de Análises Clínicas, Biotecnologia e Gestão em Saúde — realiza seu processo de admissão por sorteio. Radis conversou com três estudantes da EPSJV sobre a importância de se fazer ciência desde jovem e como eventos de popularização da ciência inspiram os estudantes no desejo de seguir o caminho da pesquisa.

Conhecimento para a vida

Maria Eduarda Azevedo tem 17 anos e é estudante do segundo ano de Análises Clínicas. Moradora de Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ela comenta que cursou o ensino fundamental em uma escola particular situada no bairro porque sua mãe é professora e tinha bolsa. “Acho importante ressaltar que nunca tive oportunidade de participar de uma feira de ciências antes de entrar para a Escola Politécnica e muito menos de uma Semana Nacional de Ciência e Tecnologia”, afirma.

A aluna Maria Eduarda Azevedo apresentando o projeto sobre contaminação de Césio em Goiânia ocorrida em 1987. — Foto: Licia Oliveira.
A aluna Maria Eduarda Azevedo apresentando o projeto sobre contaminação de Césio em Goiânia ocorrida em 1987. — Foto: Licia Oliveira.

A estudante participou de dois projetos durante a feira de 2023: um sobre a contaminação de Césio na cidade de Goiânia, em 1987; e outro sobre a evolução das tecnologias menstruais, iniciativa que também foi apresentada em outras atividades da 20ª SNCT. “Poder fazer ciência desde o ensino médio é uma oportunidade única. Ganhamos um conhecimento que vai além do científico. São aprendizados que levamos para o nosso cotidiano”, comenta.

Maria Eduarda percebe que este tipo de atividade não é apenas uma forma de incentivar os estudantes, mas é também um caminho de aproximação do público em geral com a ciência e de divulgação das atividades da escola. “Um dos objetivos do nosso projeto é chamar alunos do 9o ano das escolas da redondeza para que eles possam se tornar futuros estudantes da nossa escola. A Fiocruz é um lugar de ciência e a gente consegue fazer isso desde jovem”. Ela conta que sempre teve a percepção de que gostaria de atuar na área da saúde, mas que não tem dúvida de qual caminho seguir: “Quando eu comecei, de fato, a fazer ciência, só tive mais certeza”, completa.  

O futuro não pode parar

Paulo Fonseca, estudante do curso de Biotecnologia, e o mural com a explicação teórica sobre o projeto do foguete. — Foto: Licia Oliveira.
Paulo Fonseca, estudante do curso de Biotecnologia, e o mural com a explicação teórica sobre o projeto do foguete. — Foto: Licia Oliveira.

Durante a feira, uma das atividades que despertou a atenção dos visitantes foi a elaboração do foguete feito com garrafa pet. A explosão ocorria a partir da mistura de bicarbonato de sódio e vinagre, executada por dois estudantes. Um deles é Paulo Fernando Fonseca, de 16 anos, que cursa o primeiro ano de Biotecnologia e é morador da favela Mandela, bem próxima ao campus Manguinhos, da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Ele conta que teve uma infância bem simples, mas que tinha muita curiosidade sobre astros e foguetes e gostava de pesquisar sobre o assunto na internet.

Paulo tornou-se aluno da Politécnica por meio do incentivo de uma antiga professora. “Até o ano passado, eu estudava em uma escola pública aqui ao lado e a minha professora me aconselhou a me inscrever para cá. Achava que não seria possível, mas quando saiu o resultado e vi que consegui, comemorei”, comenta.  

Paulo percebe que poder fazer ciência desde jovem dá um sentido de continuidade ao campo e, que por isso, é importante ter eventos que popularizem e despertem o interesse no público. “Eu vejo a iniciativa com bons olhos porque é sempre bom trazer pessoas novas para a ciência, pois conforme o tempo vai passando, as pessoas vão se aposentando, e é algo que precisa continuar e evoluir mais”.

Estar envolvido desde o ensino médio em atividades de pesquisa científica é, para Paulo, um diferencial que pode ajudá-lo em suas escolhas profissionais, mais à frente. Sobre o futuro, ele já tem uma certeza: “Eu gostaria de atuar na área de saúde mental. Quero fazer Psicologia”. 

O apoio é fundamental

Grazielly da Silva, aluna do curso de Análises Clínicas, em sua primeira feira de ciências. — Foto: Licia Oliveira.
Grazielly da Silva, aluna do curso de Análises Clínicas, em sua primeira feira de ciências. — Foto: Licia Oliveira.

Começar a fazer ciência tão jovem também inclui desafios, especialmente quando tudo é ainda novo. Grazielly Melo da Silva, de 16 anos, é estudante do 1o ano de Análises Clínicas. Em um projeto com seu grupo que envolvia reações químicas entre permanganato de potássio e água oxigenada, criando uma fumaça que lembrava o “gênio da garrafa”, ela afirma que a experiência de participar de um momento como esse permite colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula.

“É muito importante participar porque venho de uma escola em que eu não tinha oportunidade de conhecer e realizar experimentos como esse. Está abrindo portas na minha mente, para eu conseguir realizar determinadas coisas que não me achava capaz”, conta.

Entre uma reação química e outra, Grazielly diz que agora já pensa em seguir carreira como cientista, apesar de ainda não ter definido uma área específica de atuação. “No início, eu não acreditava, achava que não ia conseguir e teria que desistir. Os professores foram se mostrando dispostos a me ajudar e a explicar todas as dúvidas que eu tinha”, relata. Ela também destaca o apoio recebido dos colegas e diz que ver as coisas acontecendo na prática, como na feira de ciências, é a comprovação de que ela está no caminho certo.

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