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Uma trajetória de vida a serviço do direito à informação, da democracia e da saúde pública. Essa é uma das muitas formas de descrever a história de Ilma Noronha, militante incansável da saúde, da ciência e da comunicação que faleceu neste sábado (23/3).

Mineira de nascimento, carioca de vida e bibliotecária de formação, Ilma foi pioneira em diversos campos: foi a primeira mulher eleita para a diretoria-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc), em 1993, e a primeira diretora eleita do então Centro de Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Cict), em 2000, que ela depois ajudaria a transformação em instituto, o Icict/Fiocruz.

Ilma Noronha:  militante incansável da saúde, da ciência e da comunicação. — Foto: acervo pessoal.
Ilma Noronha: militante incansável da saúde, da ciência e da comunicação. — Foto: acervo pessoal.

Ilma nasceu em 17 de junho de 1951, em um distrito de Manhumirim, na Serra do Caparaó, em Minas Gerais. Com nove anos, veio para o Rio com os avós maternos para continuar os estudos. Cursou Letras e depois se formou em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), em 1980.

Fez pós-graduação em informação e informática em saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e ingressou na Fundação em 1975. Foi chefe da biblioteca do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Presidiu a Asfoc por dois biênios (1993-1994 e 1995-1996).

Na consolidação do processo democrático interno da Fiocruz, o antigo Cict realizou sua primeira eleição em 2000. Ilma Noronha, então chefe da Biblioteca do IFF/Fiocruz, foi a primeira diretora eleita. Em 2005, ela liderou a transformação do centro em unidade técnico-científica da Fiocruz, que passou a se chamar Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), que ela dirigiu até 2008.

Ilma esteve à frente de projetos de disseminação da informação em ciência e tecnologia em saúde e da implantação de bibliotecas em hospitais. Também participou da construção do Sistema Integrado de Informação da Rede Nacional de Bancos de Leite Humano e da Biblioteca Virtual em Aleitamento Materno.

Em 2018, Ilma recebeu a 30ª Medalha Chico Mendes de Resistência, ao lado de seu marido, Romulo Noronha, concedida pelo Grupo Tortura Nunca Mais. A homenagem é destinada a pessoas, movimentos sociais e entidades que se destacaram nas “lutas de resistência popular contra a repressão e todas as formas de violência institucionalizada, na defesa dos Direitos Humanos e dos povos”. O casal militou na Ação Libertadora Nacional (ALN) contra a ditadura militar, após o golpe de 1964. Ambos foram presos políticos.

Segundo relato no site da organização Tortura Nunca Mais, Ilma era estudante do Colégio Estadual Rivadávia Correia e participava do Movimento Secundarista quando conheceu Romulo, em 1968, numa fila do bandejão. “Foi um pulo do amor à primeira vista para um companheirismo e cumplicidade que atravessou (e atravessa) décadas e décadas”, relembra o texto. Em 2022, foi lançado o documentário Um punhado de bravos, de Sergio Ross, que relata os anos de militância de Ilma e do marido Romulo durante a ditadura militar.

Em 4 de março de 2024, ela foi homenageada pelo Icict com a inauguração de um painel com uma ilustração sua feita por Venício Ribeiro, que ocupa a entrada do Pavilhão de Ensino que também leva o seu nome, no Campus Maré da Fiocruz. 

Em nota (23/3), a Fiocruz lamentou o falecimento da ex-diretora do Icict e disse que ela foi “uma mulher que simbolizou luta, coragem, determinação, lealdade, convicção e esteve à frente de seu tempo como bibliotecária, militante política, sindicalista e incansável lutadora por um mundo melhor, mais inclusivo e mais democrático”.

A Asfoc também se manifestou em homenagem à bibliotecária, em nota de pesar (23/3), em que agradeceu “imensamente a dedicação, a coragem e a paixão com que Ilma compartilhou seu legado, tão inspirador, que jamais será esquecido.”

Ilma Noronha tinha 73 anos. Deixa esposo, dois filhos e dois netos. Radis também lamenta seu falecimento e saúda sua luta em defesa do direito à informação e da democracia.

Ilma entre companheiros de jornada, entre eles, Rogério Lannes, coordenador e editor-chefe de Radis (em pé, segundo à direita). — Foto: reprodução.
Ilma entre companheiros de jornada, entre eles, Rogério Lannes, coordenador e editor-chefe de Radis (em pé, segundo à direita). — Foto: reprodução.
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Comentários para: Ilma Noronha (1951-2024)

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