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Hoje tenho a oportunidade de escrever os editoriais da revista Radis, substituindo Rogério Lannes, um escritor dos bons, como subcoordenadora.

Já são dezenas de textos dos mais variados assuntos.

Mas nem sempre foi assim. Nunca me considerei uma boa escritora, até o dia em que Marinilda Carvalho, nossa editora na época, entrou na minha sala com seu jeito urgente de tratar qualquer assunto, e me disse que eu, substituindo o chefe, deveria escrever o editorial.

Gelei e disse que não seria capaz. Mas a insistência foi tanta que acabei concordando.

Tarefa cumprida, fiquei aguardando a reação daquela jornalista que conhecia tudo de grandes textos.

Eis que ela chega, abanando o papel e gritando: “Ah, adorei seu editorial, esse final foi maravilhoso!”.

Sorri amarelo, e mal acreditei que tinha conseguido.;

Hoje, uma semana após a partida da Marinilda, relembrei essa passagem que vai em forma de homenagem à grande jornalista que me fez acreditar que eu poderia.

Obrigada, Mari.

Justa Helena Franco
Subcoordenadora do Programa Radis.

Alma jornalística

[in memorian de Marinilda Carvalho]

Repórter apaixonada, editora rígida com os prazos e comprometida com o leitor, ser humano sensível às questões urgentes do seu tempo. Assim era Marinilda Carvalho, editora da Radis entre 2003 e 2010, de quem nos despedimos em 2 de junho em razão de seu falecimento. Jornalista experiente com passagens por Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Veja, IstoÉ e Observatório da Imprensa, ela foi responsável por 72 das 100 primeiras edições da revista e ajudou a dar o tom do que a Radis é hoje.

Nas palavras de Rogério Lannes, coordenador do Programa Radis, ela “trouxe uma alma jornalística” à publicação. “Marinilda deu uma contribuição maravilhosa para a Radis: trouxe vitalidade, tônus, paixão, urgência, sensibilidade de repórter e editora, uma fidelidade enorme ao leitor, às pessoas que trabalham no SUS e às que dependem dele”, escreveu, em depoimento. Na redação da revista, Marinilda imprimiu o compromisso público com os leitores. É o que revela uma fala que concedeu, na edição de número 100, à amiga e então editora Eliane Bardanachvili: segundo ela, a parte mais atraente do processo de trabalho era ler as cartas dos leitores. “Sempre adorei ler as matérias, mas o melhor momento eram as cartas dos leitores. Perturbava a redação lendo alto os trechos mais instigantes”, afirmou em 2010.

Sua fidelidade ao leitor se traduzia na busca do zero erro e no compromisso intransigente com o “jornalismo do bem, em sua função social, de serviço público”. “Acreditava no jornalismo e nas nossas reportagens coletivas. Numa cobertura, não descansava enquanto não enxergasse o mote que a justificasse”, ressalta Rogério, ao se recordar da empolgação e do êxtase com que ela planejava uma pauta. “Era de outra geração do jornalismo, rígida, polêmica, exigente, controversa, apaixonada e apaixonante”.

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