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Lançado em 2013, o documentário “Elena” conta a história real de uma atriz brasileira, frustrada com o mercado cinematográfico nacional, que embarca para Nova Iorque para realizar o sonho que outrora fora de sua mãe: trabalhar no cinema. O enredo parte do relacionamento da diretora e roteirista Petra Costa com a irmã, Elena. “Nossa mãe sempre me disse que eu podia morar em qualquer lugar do mundo. Menos em Nova York. Que eu podia escolher qualquer profissão. Menos ser atriz”, esclarece Petra. No decorrer da história, observa-se como a menina alegre e cheia de sonhos, registrados em áudios e vídeos, aos poucos vai se tornando triste, sem esperança e mergulhada em águas turvas que a levaram ao suicídio com apenas 20 anos.

Essa força motriz permite que o espectador não assista passivamente às lembranças que unem as duas irmãs. “Se você sentir minha falta, coloque o seu ouvido na concha para que possamos conversar”, diz uma delas. O declínio de Elena é chocante. Assim como o sentimento de culpa que parece dominar a mãe e a irmã. A dor e o vazio vão muito além da capacidade de controlar emoções ou da sensação de impotência da família diante da perda.

Com uma sensibilidade incomparável, “Elena” abre discussão em torno de eixos existenciais como a melancolia, a solidão, o desencanto e a angústia e compartilha com o público os sentimentos de Elena e Petra. É uma poesia triste, amarga e perturbadora. Não é fácil sair ileso. Quem assiste sofre com as personagens — mas não existe clichê. É a vida: laços que falam mais do que qualquer palavra, dita ou não dita. É a necessidade de se juntar, se reinventar, conviver com a falta que faz aquele seu pedaço.

“Eu quero morrer. Razão? Tantas que seria ridículo mencioná-las. Eu desisto, desisto porque meu coração tá tão triste que eu sinto achar-me no direito de não perambular por aí com esse corpo que ocupa espaço e esmaga mais o que eu tenho de tão, tão frágil”, declara Elena, fragilizada. “Elena” é um filme sobre a dor de viver, sobre a poesia que vem da tragédia e sobre a busca da identidade, algo que muita gente jamais encontra. E é desse desencontro que surge o questionamento sobre o valor de permanecer ou não vivo.

Ao trazer a reflexão sobre os conflitos internos que todos passamos em alguma fase da vida, e destacar a força da figura feminina — seja por assumir seus limites ou ultrapassá-los superando as perdas de forma saudável e consciente — “Elena” torna vivas nossas memórias. Porque todos nós só morremos definitivamente quando somos esquecidos. “Você é a minha memória inconsolável, feita de pedra e de sombra. E é dela que tudo nasce. E dança”.

■ Estágio supervisionado

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