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  1. Editorial

Pandemia, comunicação e direitos

“O termômetro que mede a democracia numa sociedade é o mesmo que mede a participação dos cidadãos na comunicação”

(Herbert de Souza, Betinho)

No Brasil, a pandemia de covid-19 tomou proporções alarmantes impulsionada pelo negacionismo que minimizou e ignorou a gravidade da doença, que já matou mais de 585 mil pessoas e comprometeu o trabalho, renda e educação de milhões de brasileiros em menos de 2 anos.

A tentativa de desacreditar as medidas terapêuticas preventivas, o atraso na aquisição de vacinas e a não criação de um plano nacional de imunização pelo governo federal, é na opinião do neurocientista Miguel Nicolelis — entrevistado por Radis nesta edição — o responsável por 90% da crise que se abate sobre o país. 

Apesar da redução no número de mortes e internações, ele alerta para a possibilidade de “explosão de casos com a variante Delta” e critica os governantes que advogam relaxar as medidas sanitárias e já sinalizam com a realização de grandes eventos. Para o cientista, “o SUS salvou o Brasil de uma tragédia maior” e a pandemia expõe a “fragilidade da política e dos políticos brasileiros” que não dialogam com a ciência.

A pesquisadora da Fiocruz Maria Helena Machado falou à Radis sobre o estudo que realizou com trabalhadores de apoio que estão na linha de frente em hospitais de tratamento para pacientes internados com covid-19. A repórter Ana Claudia Peres entrevistou três trabalhadores que participaram da pesquisa e que representam para a Radis milhares de outros que diariamente realizam tarefas fundamentais para salvar vidas. Ouvir suas angústias, dificuldades e vitórias cotidianas e do quanto se sentem esquecidos e ignorados em seus ambientes de trabalho é um pedaço do reconhecimento de suas importâncias. 

O Brasil vive numa democracia e a comunicação é um direito social fundamental ao pleno exercício da cidadania e para a garantia do direito à saúde. É um bem público que tem sua relevância aumentada num cenário de pandemia, pois aborda temas de interesse público, imprescindível para a promoção da saúde e do cuidado, com inclusão de diferentes setores da sociedade. Infelizmente, na contramão do que se esperaria num momento conturbado pela pandemia, ações incorretas, principalmente de líderes e influenciadores de grande visibilidade, disseminam fake news e transmitem desinformações que comprometem as recomendações sanitárias e até a vacinação. Milhares de pessoas ainda hoje duvidam da eficácia da vacina e se recusam a recebê-la. E esta é uma entre tantas atitudes ligada diretamente à desinformação.

Para ampliar a reflexão sobre este tema, os leitores encontrarão nesta edição uma interessante conversa sobre comunicação e saúde com o editor da Radis, Luiz Stevanim, e o pesquisador Rodrigo Murtinho, autores do livro “Direito à Comunicação e Saúde”. 

Também emociona o apelo de Filippo Grandi, alto-comissário da ONU para Refugiados, publicado nesta edição no Pós-Tudo. Ele expressa seu temor pela segurança dos afegãos que foram deixados para trás, com a retirada das tropas americanas, e pede que essas pessoas tenham o direito de buscar proteção internacional e que aqueles que tiveram de deixar o Afeganistão possam encontrar ação humanitária em outros países.

Num cenário de fome, seca e perseguições, estão 39 milhões de pessoas. E nesse contexto, mulheres e meninas são as maiores vítimas do regime que governa aquele país, já que poderão ser privadas de sua liberdade para trabalhar e estudar, além de não terem garantias para suas integridades físicas e mentais.

O exemplo de resistência de dezenas de mulheres afegãs que estão indo às ruas em busca de acolhimento, diálogo e respeito à dignidade humana, surpreende o mundo. Elas gritam para que o direito à liberdade e à vida não fiquem esquecidos.

Aqui como no Afeganistão, mulheres indígenas também marcham nas ruas de Brasília, num movimento contra o Marco Temporal, que precisa ser barrado pelo Supremo Tribunal Federal, para que os povos indígenas sejam reconhecidos como os donos das terras onde vivem e que verdadeiramente protegem de ataques dos reais invasores, como grileiros, desmatadores, garimpeiros e outros, que não hesitam em destruir o meio ambiente.

Aqui como lá, os que lutam por democracia, liberdade, justiça social e vida mandam um recado que pode ser traduzido no poema “Still I rise”, escrito por Maya Angelou: “Você pode me riscar da história… Pode me atirar palavras afiadas/ Dilacerar-me com seu olhar/ Você pode me matar em nome do ódio/ Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar”.

Boa leitura!

Justa Helena Franco, subcoordenadora do Programa Radis
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