Ela é uma das cem pessoas mais influentes no mundo em 2024, diz a revista americana Time. Na reunião do G-20 com o presidente Lula, ela confrontou líderes dos países que detêm 80% da riqueza mundial e são responsáveis por 70% das emissões de CO2, interpelando: “O que está faltando para fazerem a diferença?”. Em 2025, terá papel central na COP-30, a ser realizada em Belém.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, concedeu entrevista exclusiva aos repórteres Adriano De Lavor, Ana Claudia Peres e Luíza Zauza, em que fala de suas origens, da militância ambiental e pelos povos tradicionais e a saúde, sobre a relação entre ambiente, clima e desenvolvimento e sobre a sua volta ao ministério após quase vinte anos.
Marina tem o desafio de reconstruir e propor políticas ambientais transversais, articulando áreas de um governo de coalizão nem sempre orientadas pela mesma visão de mundo e tensionando um Congresso conservador e negacionista em relação às evidências científicas sobre as mudanças climáticas.
“Os desafios de um novo ciclo de prosperidade que o país precisa não é mais na velha lógica da visão puramente desenvolvimentista que perpassou toda a história do Brasil nos últimos séculos”, explica. “Ou é possível aliar crescimento econômico e sustentabilidade ou não haverá mais prosperidade.”
Segundo ela, falava-se em mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, mas, agora há necessidade de adaptação, “inclusive, do ponto de vista de pensar que novas doenças estão surgindo ou que estão se alastrando para regiões em que elas não existiam”. Teremos que aprender também a nos “desadaptar da velha realidade que tínhamos”, diz.
Pesquisa da Fiocruz que mapeou dados de 21 anos mostra que o calor extremo dispara o processo de transmissão da dengue, tanto por causa do mosquito quanto pela circulação de pessoas. A ocorrência de eventos climáticos extremos, como secas e inundações, aliada à degradação ambiental tem favorecido o espalhamento da doença para regiões onde ela não era comum.
A proliferação do mosquito da dengue segue turbinada também pela falta de saneamento básico no país. Não há fornecimento regular de água e nem coleta e disposição adequada de lixo em aterros sanitários na maioria das cidades. Quando existem, esses serviços públicos ou privatizados não alcançam grande parte da população. Em ano eleitoral nos municípios, faz bem à saúde cobrar dos candidatos o saneamento básico para 100% da população, reduzindo um fator determinante na geração e propagação de doenças.
Um ano após declarada a emergência sanitária na Terra Indígena Yanomami, Radis quis saber por que a situação em Roraima pouco mudou. Ouvimos lideranças indígenas, pesquisadores, profissionais de saúde, autoridades e ativistas sobre as origens do problema, os desafios enfrentados e as perspectivas futuras com vistas a promover uma mudança significativa e duradora nessa realidade.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou a criação, em parceria como o Ministério da Cultura, do Memorial da Pandemia de Covid-19, a ser localizado no Rio de Janeiro. Além de homenagear as vítimas, o memorial vai mostrar o percurso da pandemia para que os mesmos erros não sejam cometidos no futuro. Foram lançadas ainda novas orientações e um guia para auxiliar profissionais de saúde a identificar casos da covid longa, ou “condição pós-covid”, e aprimorar o tratamento aos pacientes com sintomas e sequelas da doença.
No Ministério da Saúde, a prioridade nunca poderia deixar de ser a consolidação do SUS público e de qualidade para todos, com participação social e sem fazer concessões à mercantilização da saúde. A ministra Nísia, que representa esse projeto de SUS inscrito na Constituição, segue sob ataque e campanhas de desestabilização por parte de segmentos políticos e midiáticos comprometidos com a apropriação dos fundos públicos para interesses pessoais e privados. Mas ela resiste com firmeza, para o bem da saúde pública.
Passados 60 anos do golpe militar, o sanitarista e professor emérito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jairnilson Silva Paim, e o presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), o historiador e mestre em Saúde Pública, Carlos Fidelis Ponte, relembram em entrevista o autoritarismo, a violência e o aumento das desigualdades que caracterizaram a ditadura civil-militar implantada em 1964. Resgatam também o surgimento do movimento da Reforma Sanitária no bojo da luta contra a ditadura.
Em tempos de falsas notícias e falsas verdades a iludir pessoas desinformadas, são vários os estudos, debates e manifestações que ocorrem no país descortinando o legado nefasto dos 21 anos da ditadura em termos de retrocesso econômico e social, abolição da democracia e supressão dos direitos civis e sociais, da liberdade de expressão e manifestação.
O terror de Estado se refletia no medo de pensar ou agir criticamente no cotidiano do trabalho, das escolas, nos bairros e até nos ambientes familiares. Opor-se à ordem imposta pelas armas era subversão que colocava políticos ou pessoas comuns na mira da repressão. Trabalhadores, estudantes, líderes comunitários eram vigiados, ameaçados, presos. Milhares de pessoas foram perseguidas, impedidas de trabalhar e estudar, exiladas. Prisões arbitrárias, tortura, assassinatos, desaparecimento dos corpos, intimidação e perseguição das famílias foram a assinatura das ditaduras sangrentas no Brasil e em outros países sul-americanos.
Ao abordar esse tema, Radis não poderia deixar de homenagear uma jovem secundarista perseguida, presa e torturada, que resistiu e sobreviveu à ditadura para se tornar uma das figuras mais brilhantes da Fiocruz contemporânea. Bibliotecária e mestre em Ciência da Informação, Ilma Maria Horsth Noronha foi a primeira mulher eleita para presidir a Asfoc, o Sindicato Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras da Fiocruz, e a primeira diretora eleita e principal liderança na construção do Icict, o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz.
No dia 23 de março, aos 73 anos, essa bela guerreira da saúde e do povo brasileiro chegou ao fim de sua caminhada.
Ilma Noronha… Presente!
* Coordenador e editor-chefe do Programa Radis.
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