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Desde o período colonial até os dias atuais, o Brasil tem recebido e enviado migrantes, que marcaram sua história, com influência na economia, na cultura, na demografia e na sociedade.

A busca por melhores condições de vida e a fuga da pobreza extrema, de desastres ambientais, conflitos armados em suas terras natais e perseguições políticas são fatores que na última década provocaram uma grande onda migratória, que dobrou o número de imigrantes. Boa parte não vem como antes da Europa, mas de países da América Latina e África.

Na Era Vargas, a política migratória restritiva oficial escancarou o racismo e a xenofobia, acabando com a concessão de vistos a judeus, ciganos, negros e japoneses. Felizmente, a Constituição de 1988 reparou essa aberração e garantiu direitos sem “discriminação de nacionalidade e condição migratória”. A partir daí algumas leis e portarias surgiram, como mostra Radis nesta edição, que se somam à ideia de que aqui vive um povo hospitaleiro, quando na verdade persiste a segregação racial e a desigualdade.

Chegar em qualquer país como migrante é desafiador pela grande mudança que isso acarreta, em muitos casos com o afastamento da família, a perda de status, a separação da terra natal, a dificuldade com o idioma e a interrupção do contato com o grupo ao qual pertencia e seus modos de vida. 

Radis inicia o ano trazendo a discussão sobre esse fenômeno de muitas faces e complexidades. O repórter Jesuan Xavier acompanhou as discussões da 2ª Conferência Nacional de Migração, Refúgio e Apatridia (Comigrar), que discutiu os problemas de quem atravessa fronteiras na busca dos direitos mais fundamentais, e não quer ser tratado como se estivesse furando o sistema e roubando os privilégios alheios. 

“O Brasil precisa tirar do papel as políticas eficazes que devem equilibrar direitos humanos, integração, inclusão e cooperação social.”

As várias falas que surgiram na Conferência deixam claro que o objetivo maior do movimento de migrantes e refugiados é de que a eles não sejam negadas as oportunidades de trabalhar, avançar e prosperar, o acesso a serviços básicos, a proteção e o direito de amar e viver, como querem para si todos os que aqui vivem. 

O Brasil precisa tirar do papel as políticas eficazes que devem equilibrar direitos humanos, integração, inclusão e cooperação social. É necessário enxergar a xenofobia presente no século XXI e fazer valer a Constituição.

Nosso repórter Adriano De Lavor foi até Manaus conhecer a sede da Acompañadas, organização social criada pela imigrante venezuelana que fez de suas dificuldades encontradas no Brasil um motivo maior para ajudar outras mulheres. A hoje empreendedora social destaca a importância da saúde e da documentação como pontos fundamentais para habilitar o migrante ao trabalho. 

Lis, como é chamada, foi eleita delegada da Comigrar, elogia o Sistema Único de Saúde (SUS) e conta que a assistência à saúde motivou sua migração para o Brasil. Uma mulher que migrou em busca de assistência para seus filhos, ela é hoje uma empreendedora que acolhe pessoas de todas as nacionalidades, inclusive brasileiros, em seus processos de adaptação e necessidades básicas. Como bem disse Panmela Castro (renomada pintora contemporânea): “Quando uma mulher é autora, ela caminha por outros propósitos e espaços”.

A frase proferida por Panmela citada acima também pode se aplicar à atriz Fernanda Torres, que acaba de ganhar o Globo de Ouro. O Brasil torceu e vibrou como se estivesse assistindo à Copa do Mundo. E foi ótimo começar o ano com essa premiação. O filme “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles, resgata um pedaço da vida de Eunice Paiva e sua família, com a luta pelo esclarecimento do assassinato de seu marido, morto pela ditadura cruel que dirigiu o Brasil por 21 anos. 

O reconhecimento chegou em boa hora, pois alerta principalmente para os que não viveram esse tempo, de anos covardes e duros, sobre os riscos de um regime totalitário. “Ainda estou aqui” é um filme político, comprometido com a história, a resistência e a busca da verdade sem ser panfletário. É só uma página de um diário que parece ter sido rasgado e esquecido por muitos que viveram os anos de chumbo.

Ganhou Fernanda, ganhou o cinema nacional, ganhou a arte e ganhou a memória de muitos brasileiros.

Boa leitura e bom 2025 para todos leitores e leitoras de Radis!

Justa Helena Franco, Subcoordenadora do Programa Radis

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