A

Menu

A

A alegria com a retomada dos altos índices de vacinação para a proteção de crianças e adultos, superando anos de descaso na condução das políticas de saúde, e a preocupação com o processo de desinformação e obscurantismo que ainda assola o país, uma ameaça à compreensão por parte da sociedade, são a inspiração para a matéria de capa sobre a poliomielite.

O subeditor Glauber Tiburtino ouviu especialistas que descrevem a doença e as suas consequências, o quanto ela atingiu gerações de crianças brasileiras e a chamada síndrome pós-pólio, que requer diagnóstico e tratamentos adequados. Erradicada no Brasil desde 1989, graças à aplicação em massa das vacinas Sabin (a das gotinhas) e Salk (injetável), a doença pode retornar, segundo a Organização Mundial de Saúde, caso a imunização não seja mantida enquanto houver a circulação do poliovírus no planeta.

“Sobreviventes da pólio” foram entrevistados, trazendo a visão e a voz dos que melhor podem nos ensinar sobre as implicações de conviver ou ter convivido com os efeitos da poliomielite. Deivson Rodrigues, o último brasileiro diagnosticado com a doença, não se conforma com a desinformação dos movimentos antivacina: “Vacina é um ato de amor. Eu incentivo os pais a levarem seus filhos à vacinação e evitar que o pior aconteça”. Vacina é um direito.

Sandra Ramalhoso, presidente da Associação G-14 de Apoio aos Pacientes com Pólio e Síndrome Pós-Pólio, faz um comovente relato à Radis sobre a infância e adolescência com a paralisia flácida decorrente da poliomielite, de como tem sido viver com essas marcas há mais de 60 anos e sobre as dificuldades para superar, ou não, os muitos desafios. Sua capacidade de lutar é inspiradora.

À luta das pessoas que foram acometidas pela pólio e convivem com suas consequências devemos muitos dos avanços na compreensão e garantia de acessibilidade e direitos às pessoas com deficiência. Algumas dessas conquistas estão seriamente ameaçadas, alerta Sandra. Uma busca de vida digna e cidadania plena que não acabou e depende do entendimento, respeito, envolvimento e atuação política de toda a sociedade.

Um assunto candente nas últimas semanas foi o recrudescimento da ofensiva contra o aborto legal desde 1940, capitaneada pelo retrógrado Conselho Federal de Medicina e pela bancada ultraconservadora da Câmara de Deputados. Para elevar a discussão sobre o tema, que deve ser tratado como uma questão de saúde pública e de direito das mulheres em relação ao próprio corpo e à vida, registramos a indignação da sociedade brasileira contra as propostas obscurantistas e trazemos uma análise sobre a perversa cultura do estupro no país e a visão de especialistas que participaram do debate O acesso ao aborto legal no SUS, realizado na Fiocruz.

Celebramos os 40 anos dos Cadernos de Saúde Pública, revista científica de prestígio internacional e classificação Qualis A1 pela Capes, que chegou a 8.500 artigos e 70 fascículos temáticos publicados. CSP e Radis são iniciativas “irmãs” e complementares da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, desde os anos 1980, ao abordarem com independência editorial, seja na comunicação e divulgação científica ou no jornalismo e comunicação pública, os temas da saúde, ciência e direitos humanos, “comprometidos com a vida, a democracia e o SUS”, como entende Luciana Dias Lima, uma das três editoras-chefes dos Cadernos entrevistadas na reportagem.

Quatorze anos após a 4ª CNCTI, a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação reunirá milhares de pessoas em Brasília, sob o tema “Para um Brasil justo, sustentável e desenvolvido”, para discutir a recuperação, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação associado à reindustrialização, projetos estratégicos e o desenvolvimento social.

Artigo na seção Pós-Tudo discute como parte da sociedade e da categoria médica, ignorando “evidências sobre flexibilização cognitiva e bem-estar em seres humanos”, aceita a hiper medicalização de crianças, mas resiste à adoção do extrato de cannabis como uma das alternativas de tratamento para que pessoas autistas tenham redução de sintomas fisiológicos, cognitivos, emocionais, comportamentais, metabólicos, afetivos e sociais.

Foto na página 2 desta edição mostra mais um dia de medo e violência no território em que trabalhamos. Helicópteros passavam abaixo das janelas da redação, enquanto um ônibus era incendiado em frente à portaria da Fiocruz. Alguém consegue imaginar uma invasão de carros blindados e helicópteros, com policiais portando fuzis e atirando pelas ruas de Ipanema e Leblon, na Zona Sul do Rio, com moradores sem poder sair ou voltar para casa, trabalho, escola ou posto médico? E isso se repetindo por dezesseis vezes em um único semestre?

Trabalhar há 42 anos inseridos no território dos conjuntos de favelas da Maré e de Manguinhos nos permite ver com nossos próprios olhos como são tratadas pela polícia, a mídia e o poder público as populações das favelas e periferias. Por isso, nos solidarizamos integralmente com elas. O desrespeito aos direitos desprotege a vida.

■ Rogério Lannes Rocha, Coordenador e editor-chefe do Programa Radis

Sem comentários
Comentários para: Respeitar direitos protege a vida

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Anexar imagens - Apenas PNG, JPG, JPEG e GIF são suportados.

Leia também

  1. Editorial
Nesta edição, Radis trata do uso de psicodélicos na medicina. Um tema polêmico, que tem produzido muito ruído nos dias atuais, já que mexe com mudanças ideológicas e culturais da população. “Renascimento psicodélico”, propõe o neurocientista Sidarta Ribeiro, entrevistado pelo repórter Luiz Felipe Stevanim, quando avalia os benefícios dos chamados “psicodélicos” para a saúde. O […]
Próximo

Radis Digital

Leia, curta, favorite e compartilhe as matérias de Radis de onde você estiver
Cadastre-se

Revista Impressa

Área de novos cadastros e acesso aos assinantes da Revista Radis Impressa
Assine grátis