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Quando uma mulher amamenta seu filho, garante a ele nutrição e proteção contra doenças. E também protege a si mesma, já que a amamentação ajuda a prevenir o câncer de mama, por exemplo. As brasileiras estão amamentando por mais tempo e com mais qualidade, segundo os resultados preliminares do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani 2019): o aleitamento materno exclusivo de crianças menores de seis meses saltou de 2,9%, em 1986, para 45,7%, em 2019, o que corresponde a um incremento de cerca de 1,2% ao ano. Para os menores de quatro meses, houve um aumento de mais de 12 vezes nos últimos 34 anos, indo de 4,7% para 60% de crianças que só se nutriram de leite materno. Contudo, a pesquisa também evidencia algumas lacunas que precisam ser preenchidas para consolidar ainda mais a prática do aleitamento.

O estudo, inédito no país, é coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em conjunto com a Fiocruz, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), e conta com a parceria de dezenas de universidades e instituições públicas de todo o Brasil. Ele ocorre 14 anos depois do último inquérito nacional dirigido para o público de lactentes, crianças até dois anos de idade e pré-escolares menores de cinco anos — a Pesquisa Nacional de Demografia em Saúde (PNDS), de 2006. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade — e também orienta que ele deve continuar, pelo menos, até a criança completar dois anos.

O Enani é dividido em três eixos: consumo alimentar e aleitamento materno; avaliação de deficiências de micronutrientes; e avaliação do estado nutricional antropométrico, no qual são analisadas medidas de peso corporal e estatura nas crianças com menos de cinco anos e suas mães. Para isso, coletou informações detalhadas sobre os hábitos alimentares, peso e altura de crianças até cinco anos, além de exames sanguíneos naquelas com mais de seis meses. O inquérito avaliou 14.584 crianças com menos de cinco anos de vida, de fevereiro de 2019 a março de 2020. Mesmo com resultados preliminares, todos os indicadores do relatório registraram um aumento quando comparados às PNDS de outros anos. 

No peito, por mais tempo

De 2006 para 2020, muita coisa mudou. Para as crianças menores de seis meses, o aleitamento materno exclusivo subiu de 37,1% para 45,7%. Cristiano Boccolini, da Coordenação de Consumo Alimentar e Aleitamento Materno do estudo, explica que de lá para cá, a licença-maternidade foi ampliada de quatro para seis meses para todas as empresas que aderiram ao Programa Empresa-Cidadã, o que foi adotado como parâmetro pelo Ministério da Saúde e todos os outros ministérios brasileiros.

Também houve avanços na cobertura dos Bancos de Leite Humano (BLH), na Iniciativa Hospital Amigo da Criança e de ações voltadas para a atenção primária em saúde, como a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, que permitiram que esses indicadores avançassem e gerassem um ambiente de proteção e apoio às mulheres trabalhadoras para que amamentem seus filhos. Outro progresso importante foi a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL), que regulamenta o marketing de produtos e alimentos para lactentes e crianças menores de três anos.

Conscientização e mercado de trabalho

O indicador sobre aleitamento exclusivo até os quatro meses teve aumento expressivo. A prevalência subiu para 60% em 2019, número que representa um aumento absoluto de 55,3% quando se compara com a PNDS de 1986, em que apenas 4,7% das crianças até quatro meses contavam com aleitamento materno exclusivo. Contudo, muito ainda pode melhorar. Boccolini destaca algumas ações para promover um avanço maior nos indicadores brasileiros sobre amamentação. A conscientização e a sensibilização da população é essencial, como acontece com a Semana Mundial de Aleitamento Materno, em agosto, em que são promovidos os benefícios da amamentação exclusiva até os seis meses e continuada até os dois anos ou mais.

Ele também destaca que até os quatro meses de vida da criança, mulheres que trabalham estão protegidas pela legislação e por isso têm maior disponibilidade para estarem com seus filhos. “Tanto que a prevalência de aleitamento materno aos seis meses quando comparada aos quatro meses tem uma redução de quase 15%, muito em função disso, de uma parcela da população que ainda não se beneficia da licença-maternidade de seis meses”, diz. Além disso, ele também lembra da crescente inserção de mulheres no mercado de trabalho formal de 2006 até hoje.

Para além do primeiro semestre de vida, o relatório preliminar indica também saldos positivos quando comparado aos dados de outras PNDS. O indicador de aleitamento continuado aos 12 meses, que se refere à proporção de crianças entre 12 e 15 meses que receberam leite materno no dia anterior à avaliação, marcou 53,1% contra 30% em 1986. Já em relação às crianças de dois anos, o aleitamento continuado chegou a 60,9%, o que corresponde a um aumento de 23 pontos percentuais quando se compara aos 37,4% registrados em 1986.  

O resultado desses números, segundo Cristiano, envolve duas questões. As mensagens das Semanas Mundiais de Aleitamento Materno e dos profissionais de saúde geram sempre ênfase na importância do aleitamento exclusivo até seis meses, mas focam pouco na possibilidade de a mulher continuar amamentando seu filho mesmo que ofereça outros alimentos, a chamada amamentação continuada. Além disso, se por um lado a entrada das mulheres no mercado de trabalho favorece o aleitamento exclusivo, em especial nas crianças menores de quatro meses de vida, a continuidade do aleitamento materno pode estar prejudicada justamente pela tripla jornada que a mãe enfrenta — do trabalho, da casa e da criança. “Acaba demandando muito dela e pode ser que isso esteja associado a um avanço não tão importante nesses indicadores”, avalia o pesquisador.

Para Cristiano, a sociedade brasileira tem historicamente uma visão de apoio à amamentação e endossa o aleitamento materno no cotidiano. Mas, culturalmente, limita essa prática até um certo nível de desenvolvimento da criança, como por exemplo, até que comece a falar e a andar. Outra mudança de percepção que chama atenção, segundo ele, diz respeito à amamentação em público, que há uma ou duas décadas, passava despercebida pela sociedade. “Era aceito, assimilado e compreendido como uma prática natural, mas que hoje, por alguma questão de moralismo, muitas mulheres acabam sofrendo algum tipo de assédio moral ou mesmo sexual quando amamentam em público”, explica. 

Para o coordenador, ainda é preciso valorizar o aleitamento continuado até dois anos ou mais. Segundo ele, este aspecto precisa ser trabalhado com ações de comunicação, já que as crianças vão ter benefícios nutricionais relacionados à composição do leite, que ajudam no crescimento e no desenvolvimento, e o leite materno traz ganhos imunológicos e continua prevenindo doenças infecciosas, principalmente as respiratórias e intestinais. “A criança que continua sendo amamentada até dois anos ou mais também vai ter benefícios psicológicos e de sensação de segurança, conforto, carinho e amor que o ato de amamentar proporciona”, conclui. 

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