Quando pensamos que o arsenal de maldades de Trump se esvaziou, logo nos deparamos com uma nova ação. O presidente dos EUA afirmou (30/1) que a culpa pelo último acidente aéreo que matou mais de 60 pessoas, em Washington, foi das políticas de diversidade, equidade e inclusão do Governo e da FFA, agência de aviação dos EUA, sem sequer esperar o fim da investigação.
É uma covardia enorme imputar o acidente às políticas afirmativas. Ao contrário do que Trump afirmou, estudos comprovam que a diversidade e a inclusão nas empresas e instituições não só contribuem para a reparação histórica de segmentos discriminados, como na construção de repertório qualificado e plural, gerando mais produtividade.
O empresário Trump sabe disso. Mas o político republicano, no afã de se manter como um dos maiores líderes da extrema-direita fascista, alimenta suas bases com fake news e as convoca para a guerra moral e uma onda de ódio contra segmentos discriminados.
O governo Trump, desde que tomou posse, vem atacando imigrantes, violando direitos humanos básicos em deportações; povos indígenas nativos; a igualdade de gênero, tirando mulheres de posições de poder no governo; a soberania de países e a comunidade LGBTI+, especialmente pessoas trans, que nos últimos anos conquistaram direitos nos EUA para o reconhecimento de sua identidade de gênero, base fundamental para o respeito, a dignidade e a cidadania de mulheres travestis e transexuais, homens trans, pessoas transmasculinas e também pessoas intersexo.
Desde que tomou posse (20/1), a animosidade de Trump contra as pessoas trans vem sendo traduzida em atos da Casa Branca que vão desde o fim de programas de diversidade, equidade e inclusão em todo o governo; a limitação do reconhecimento governamental do gênero de uma pessoa ao sexo de nascimento, excluindo pessoas trans, intersexo e não binárias, exemplo: passaportes e outros documentos de identificação só poderão considerar o sexo biológico; a proibição de trans servirem as Forças Armadas, colocando 15 mil pessoas trans militares numa situação de maior vulnerabilidade.
Trump deixa muito explícito que é inimigo dos direitos humanos, da diversidade, das minorias sociais e políticas.
Segundo a ONG GLAAD, Trump, na contramão do seu discurso de liberdade de expressão, instaurou a censura na comunicação oficial e nos sites federais, removendo as palavras gay, lésbica, bissexual, LGBTQI, HIV, orientação sexual e transgênero. Outra meta dele é impedir que mulheres trans possam participar de competições esportivas femininas, indo contra diversos estudos.
A perversidade também se voltou para as políticas de apoio aos países pobres na luta contra o HIV/aids, ameaçando, com cortes de recursos, o programa global da Organização Mundial da Saúde (OMS) de apoio à África e à América Latina.
Trump deixa muito explícito que é inimigo dos direitos humanos, da diversidade, das minorias sociais e políticas. Instala-se na Casa Branca uma camarilha, que terá no ódio e na perseguição seus combustíveis para perpetuar uma cultura fascista.
Estadunidenses começam a se mobilizar. Os povos indígenas foram, com seus cavalos, à Time Square e outras cidades (1/2) para protestar contra os discursos de ódio e racismo de Trump. Apple e Delta Airlines, entre outras empresas, orientaram seus acionistas a continuarem com suas políticas de diversidade, na contramão de empresas alinhadas a Trump, como Amazon, Meta, McDonald´s, Boeing e Walmart, que vêm sendo alvo de boicote de negros.
Somente com mobilização doméstica e internacional, o povo dos EUA poderá frear estes delírios fascistas e racistas, como já ocorreu em outros momentos históricos. Os países ricos não podem fingir que nada acontece. O respeito aos direitos humanos, a autodeterminação dos povos, aos direitos indígenas, de pessoas negras, mulheres e pessoas LGBTI+ deve ser parte das condicionalidades em acordos comerciais e de cooperação com os EUA. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) precisam sair do ostracismo burocrático e das declarações figurativas, impondo sanções efetivas.
Nós, latinos e africanos, precisamos nos solidarizar com os povos discriminados nos EUA e ficarmos atentos a estes movimentos extremistas. Precisaremos de muita união e mobilização em favor dos direitos humanos, diversidade, equidade e a soberania de nossos países, mas, para isso, devemos também cobrar de nossos governos que façam o seu dever de casa.
■ Filósofo, presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ e diretor de Políticas Públicas da Aliança Nacional LGBTI+
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