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Pioneira na introdução do palhaço no universo hospitalar, a Doutores da Alegria, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, que atua no Brasil há mais de 30 anos, começa a sair de uma grave crise financeira. A maior de sua história.

Em outubro de 2024, a situação chegou ao ponto da associação precisar interromper temporariamente suas atividades nos hospitais de Pernambuco e Rio de Janeiro e em 90% das unidades de São Paulo. Ao passar por uma ampla reestruturação para enfrentar a forte queda nas doações, a Doutores da Alegria chegou ao fim de 2024 cancelando 40% das ações previstas.

Na ponta dos seus serviços, sentiram os pacientes, familiares, enfermeiros e até os médicos, já acostumados aos impactos positivos das intervenções culturais dos palhaços na dura rotina hospitalar. Aproximadamente 30 mil pessoas deixaram de ser beneficiadas — sendo 10 mil em São Paulo, 11 mil no Recife e 8 mil no Rio de Janeiro.

Situação que não aconteceu nem durante a pandemia de covid-19, quando a Doutores da Alegria também se adaptou ao chamado “novo normal” do período. Na ocasião, a ONG criou o “Plantão Besteirológico”, com intervenções artísticas dos palhaços pela internet, com o uso de tablets e apoio de profissionais de saúde.

Mas 2025 começou  diferente. Em janeiro, mesmo em férias, Luís Vieira da Rocha, diretor-presidente da Associação, fez questão de responder à Radis. Segundo ele, desde o ápice da crise de 2024, a direção trabalha arduamente para garantir o reerguimento da Doutores da Alegria. 

Luis teceu críticas ao governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando o Ministério da Cultura descontinuou os mecanismos de projetos culturais, admitiu que houve a necessidade de fazer cortes, com a redução de 50% dos funcionários, mas garantiu a manutenção de todo o corpo de atores (palhaços), que ganham por trabalho realizado. 

Mesmo preocupado com a atual situação, Luís demonstra otimismo. “Já saímos da UTI e hoje estamos na sala de observação”, diz. Ele tem consciência de sua responsabilidade e sabe da relevância da ONG. Pesquisa realizada em parceria com o Instituto Fonte demonstrou a eficácia desse tipo de trabalho na saúde: 96% dos profissionais da área afirmaram que as crianças se sentem mais à vontade no hospital logo após as intervenções dos palhaços; 95% perceberam que elas ficaram mais ativas; e 89% observaram que os pacientes se tornaram bem mais colaborativos com toda a equipe de auxílio.

A Doutores da Alegria aposta, principalmente, na solidariedade para conseguir se sustentar e garantir sua continuidade. Lançou no fim de 2024 a campanha “Doar Espalha Alegria”, em parceria com a agência FCB Health Brasil. Desde então, ações voltadas à sensibilização do público nas redes sociais, outdoors e até cartazes no metrô chamam a atenção para o atual momento da organização. 

Que motivos levaram à situação de crise vivida pela ONG Doutores da Alegria?

As dificuldades financeiras se iniciaram durante a gestão anterior do governo federal [do ex-presidente Jair Bolsonaro, de 2019 a 2022], quando houve no Ministério da Cultura a descontinuidade dos mecanismos de financiamento dos projetos culturais. Doutores da Alegria, como projeto de ação contínua nos hospitais, sempre inscreveu um Plano Anual, na Lei Federal de Incentivo à Cultura [Lei nº 8.313/1991 ou Lei Rouanet] para as ações realizadas de janeiro a dezembro. A partir de 2020, o Ministério não mais aprovou esses planos anuais fazendo com que a organização investisse a maior parte de sua reserva financeira (R$ 5,5 milhões) para a manutenção dos trabalhos gratuitos nos hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife e nas atividades de formação de jovens em situação de vulnerabilidade social. 

Como isso impactou o sustento financeiro da organização?

A organização atua por meio das destinações de recursos, por pessoas e empresas, que utilizam o mecanismo da renúncia fiscal de impostos promovida pelas leis de incentivo à cultura — e por doações de recursos não incentivados por pessoas físicas e empresas. A maior parte do orçamento é composto por recursos provenientes das leis de incentivo, que devem ser aplicados conforme os projetos aprovados. Os recursos captados sem as leis de incentivo são importantes, pois podem ser aplicados nas atividades que não estão cobertas pelos projetos incentivados e a formação de reserva financeira com recursos universais que podem ser investidos em ações emergenciais ou novas oportunidades. Em outubro de 2024, pela primeira vez em 33 anos, Doutores da Alegria precisou interromper suas atividades nos hospitais de Pernambuco e Rio de Janeiro e em 90% das unidades de saúde de São Paulo. Isto ocorreu devido à queda nos valores arrecadados nas doações de empresas, por meio da Lei Rouanet, sua principal fonte de recursos. 

E como está sendo essa recuperação? A Doutores da Alegria passa atualmente por algum processo de readequação?

Desde então, uma série de ações têm sido colocadas em prática para evitar que este cenário volte a se repetir, tendo como carro-chefe a campanha de doação “Doar Espalha Alegria”, em parceria com a agência FCB Health Brasil. Durante o ano de 2024, a organização iniciou uma reestruturação em todas as áreas que possibilitasse uma redução orçamentária, procurando preservar a qualidade das intervenções e o impacto social das atividades artísticas e formativas. Estas mudanças possibilitaram a restauração da saúde financeira da organização com o equilíbrio entre recursos disponíveis e despesas, gerando um pequeno superávit. No início de 2025, realizaremos ações de planejamento estratégico, pensando no fortalecimento das ações da organização frente aos desafios propostos pela atualidade.

Há como mensurar o tamanho do prejuízo para as pessoas e de que forma os pacientes foram ou são atingidos?

Pioneira no Brasil na introdução do palhaço no ambiente hospitalar, Doutores da Alegria acumula desde 1991, ano de sua fundação, mais de 2,5 milhões de visitas a crianças, pais e acompanhantes nos hospitais públicos. A associação cancelou 40% das atividades previstas para o restante de 2024 por conta da redução nas doações. Desde o início da paralisação, aproximadamente 30,5 mil pessoas deixaram de ser beneficiadas, sendo 10,8 mil em São Paulo, 11 mil no Recife e 8,7 mil no Rio de Janeiro.

Saiba como doar:
https://doar.doutoresdaalegria.org.br

Prêmios conquistados

  • Prêmio Habitat da ONU — como uma das 40 Melhores Práticas Globais 
  • Prêmio Cultura e Saúde (Ministério da Cultura e do Ministério da Saúde) 
  • Prêmio Bem Eficiente, que reconhece entidades do terceiro setor
  • Prêmio Criança (Fundação Abrinq Pelos Direitos da Criança)

Alegria em números

  • 2,5 milhões de crianças atendidas nos hospitais
  • 15 hospitais parceiros
  • 45 artistas (palhaços) contratados
  • 1 mil alunos formados na Escola Doutores da Alegria
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