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Nara Martins deixou a Terra Indígena Barata, onde vivem indígenas dos povos Macuxi e Wapichana, para estudar Nutrição na capital de Roraima e realizar um sonho. A comunidade fica na cidade de Alto Alegre, na região do Taiano, a cerca de 87 quilômetros de Boa Vista. Com bolsa estudantil, a jovem Macuxi que ingressou na faculdade aos 18 anos logo seria uma das primeiras nutricionistas indígenas do estado.

O projeto de cursar Nutrição não era apenas um desejo pessoal, mas nasceu da percepção de uma necessidade de seu povo. “Sempre quis tentar Nutrição porque é muito difícil nas comunidades indígenas ter um nutricionista. Tem enfermeiro e médico, mas não nutricionista”, aponta. Perceber que a presença desse profissional nas aldeias era considerada “luxo” fez com que a então estudante se especializasse em nutrição infantil indígena. Com empenho, ela estudou a influência dos primeiros alimentos introduzidos para crianças indígenas, de 0 a 5 anos de idade. “Esse é um déficit, porque também não há pediatria”, constata.

“Assim que concluí a faculdade, comecei a atuar como nutricionista nas áreas remotas”, narra a jovem, hoje à frente do Centro de Recuperação Nutricional da Casa de Saúde Indígena (Casai) Yanomami. “Trabalhei dois anos com o público venezuelano, tanto indígena como não indígena”. Com o decreto da Emergência em Território Yanomami, não teve dúvidas: ela tinha que estar ali para ajudar.

“Hoje me ver como nutricionista e representante do meu povo é motivo de muita honra. Mas espero que futuramente não seja algo tão inacreditável de acontecer”, afirma Nara Martins, nutricionista da Casai e indígena Macuxi. — Foto: Eduardo de Oliveira.
“Hoje me ver como nutricionista e representante do meu povo é motivo de muita honra. Mas espero que futuramente não seja algo tão inacreditável de acontecer”, afirma Nara Martins, nutricionista da Casai e indígena Macuxi. — Foto: Eduardo de Oliveira.

“Sou uma desbravadora”, afirma Nara, ao se reconhecer como referência entre os profissionais indígenas. “Hoje me ver como nutricionista e representante do meu povo é motivo de muita honra. Mas espero que futuramente não seja algo tão inacreditável de acontecer”, completa. Ela avalia que a presença de uma profissional indígena à frente das ações de nutrição ajuda as mulheres Yanomami a terem mais confiança e a se sentirem confortáveis durante o acompanhamento de seus filhos. 

Todos os dias as crianças são pesadas. Peso e altura são anotados, com atenção, na prancheta de Nara e outros nutricionistas que atuam no local. Depois, é hora de fazer os cálculos antropométricos. “Cada grama de peso que a criança ganha é uma vitória”, explica Nara. As mães já sabem que a fórmula que mistura ingredientes calóricos e as frutas regionais, como bacaba, buriti e açaí, é o que irá ajudar seus filhos a sobreviver. 

Seu olhar indígena faz com que Nara se identifique com as histórias daquelas mães Yanomami. “Eu me sinto como uma representante delas. Não tem como explicar ter um profissional indígena à frente deste trabalho”. E ela torce para que, no futuro, isso deixe de ser algo raro. “Espero que seja algo comum ver um professor, um médico ou um nutricionista indígena em qualquer lugar que eu for”, afirma.

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