Os números apresentados nesta edição dão a real dimensão do tamanho que permeia a violência contra a mulher na sociedade brasileira. Uma sucessão de exemplos mostra uma escalada de ódio e violência que coloca o Brasil como o país que mais mata mulheres no mundo. A dor de quem perde uma filha, uma mãe, uma irmã não é mimimi. Assim como não é mimimi o assédio e os estupros a que são submetidas mulheres nos transportes públicos, no trabalho ou na própria casa. Não é mimimi o tráfico de mulheres para a prostituição, não é mimimi também a violência obstétrica em grande parte invisível.
O combate às múltiplas formas de violência contra a mulher passa pelo enfrentamento das desigualdades de gênero, que vem sendo parte de um processo histórico de silenciamento, apagamento e desvalorização do corpo da mulher até por parte do mandatário do país, que nos últimos quatro anos não se furtou em proferir falas misóginas, sexistas e discriminatórias, numa sucessão de exemplos horrorosos que ignoraram o direito da mulher de não sofrer agressões no espaço público ou privado e de ser respeitada em suas especificidades sem sofrer nenhum tipo de agressão, seja ela física, moral, psicológica ou verbal.
Em que pese alguns avanços já alcançados na área jurídica e o apoio de movimentos organizados da sociedade civil para proteger mulheres e meninas, a constatação do aumento no número da violência mostra que o país retrocedeu nas mudanças estruturais da desigualdade de gênero, estimulado em grande parte por uma onda ideológica conservadora que atinge comportamentos, hábitos e costumes e cria uma cultura de culpabilização da vítima. Como bem disse Livia Merlem, coordenadora do Mapa do Acolhimento entrevistada pela repórter Ana Claudia Peres para esta edição, “honra não é desculpa nem para agredir, nem para ofender nem para violentar nem para matar”.
Desde já, é preciso questionar crenças limitantes e estereotipadas entre mulheres e homens, cobrar políticas públicas que possam coibir, punir e erradicar todas as formas de violência. As mulheres merecem viver num país que se mobiliza contra injustiças e preza por uma sociedade igualitária.
“Foi uma aula” — assim resumiu a repórter Licia Oliveira, comentando a entrevista que realizou, ao lado do editor Luiz Felipe Stevanim, com a médica sanitarista Lucia Souto, atual presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), que falou sobre a construção do movimento da Reforma Sanitária e a importância da Oitava Conferência Nacional de Saúde, que inspirou a garantia da saúde como um direito na Constituição Brasileira.
Como testemunha presente na implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), Lucia relembrou a importância do movimento para criação da Política Nacional do Sangue, a questão da saúde indígena e a reforma psiquiátrica. Com certeza uma importante aula que corrobora o papel fundamental da participação social.
No Brasil, a contaminação pelo benzeno é um problema de saúde pública, que merece atenção para ações destinadas à prevenção, que envolvam a redução e o controle capazes de atenuar ou eliminar seus efeitos de risco, não só para a saúde de milhares de trabalhadores, mas também nas agressões ao meio ambiente.
O repórter de Radis, Glauber Tiburtino, ouviu especialistas e pesquisadores que se dedicam ao estudo do benzeno e sua relação direta com o desenvolvimento do câncer. Todos lamentaram a extinção da Comissão Nacional Permanente do Benzeno em 2019, realizada pelo governo Bolsonaro. Esta decisão impactou o controle sobre o nível de risco a que se submetem trabalhadores em atividades ocupacionais com exposição potencial ao benzeno e pessoas que lidam com o produto.
Mais uma decisão descabida e desastrada do governo que por ignorar a ciência e o conhecimento de especialistas compromete a saúde do povo brasileiro.
Boa leitura!
Justa Helena Franco, subcoordenadora do Programa Radis
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