O Senado brasileiro jogou para debaixo do tapete um relatório repleto de evidências e depoimentos que recomendava o indiciamento de 16 pessoas, entre empresários, donos de plataformas e influenciadores digitais, como resultado de oito meses de apurações e audiências na Comissão Parlamentar de Inquérito das Apostas Esportivas, a “CPI das Bets”.
O que os nobres senadores da República não conseguiram, ao arquivar o relatório e proteger os milionários que lucram com o vício de milhões, foi esconder a dimensão devastadora na vida pessoal e familiar dos que se encantaram com a enganosa propaganda de fortuna fácil difundida pela mídia hegemônica e alguns influenciadores digitais.
Apostar on line virou uma epidemia no país, que soma o problema generalizado de saúde mental – uma emergência em saúde pública –, à ameaça à subsistência das famílias – um crime contra a economia popular. São mais de quatro milhões de apostadores de risco no país, dos quais, 52% apostam mesmo após perdas significativas e 48% encontram-se endividados.
Reportagem de Jesuan Xavier ouve especialistas e mostra situações como a do apostador que contraiu dívidas com banco e agiotas, desviou dinheiro da empresa em que era sócio e vendeu a própria casa para jogar. Por outro lado, revela, com dados da CPI, que 40% dos jogadores de apostas pertencem às classes D e E, enquanto 45% estão na faixa C, com apenas 16% situados nos extratos A e B.
“As plataformas de aposta são desenhadas para gerar dependência. A facilidade de acesso, a ampla divulgação e a lógica de recompensa imediata contribuem para criar um ambiente propício ao vício. Isso está levando milhões de brasileiros a uma espiral de perdas financeiras, isolamento social e sofrimento psíquico”, afirma o psicólogo Altay de Souza.
O psiquiatra Hermano Tavares, que coordena o Ambulatório do Jogo Patológico do Hospital das Clínicas da USP, vê um aumento de adolescentes jogando, mesmo sendo proibido, “comprometendo a formação escolar, a saúde mental e a inserção social”, e critica a legalização das bets: “É como se tivéssemos instalado um cassino em cada bolso”.
O mundo do esporte cala-se diante do problema e ainda lucra com isso. As bets patrocinam os 20 clubes da primeira divisão do futebol brasileiro e estão presentes em 70% das placas publicitárias dos estádios. A mídia hegemônica, com a programação fartamente patrocinada pelas “Bets”, negligenciou na cobertura da CPI e o absurdo arquivamento do relatório final.
Ao contrário, o nosso repórter enfatiza o alerta dos especialistas: “O risco é que essa epidemia silenciosa continue a devastar vidas em troca do lucro fácil de poucos.”
A aposta da Radis é na saúde da população e na escuta e no cuidado com as pessoas que sofrem. Nesta edição, a repórter Lara Souza aborda uma doença que afeta 3% da população brasileira, com diagnóstico que requer conhecimento, boa avaliação clínica e, principalmente, uma escuta apurada do que dizem os pacientes sobre os sintomas e suas dores.
A síndrome de fibromialgia é uma condição crônica que causa dor no corpo todo, principalmente na musculatura e nos tendões. Provoca cansaço, afeta o sono e pode levar a alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão, alterações intestinais e grande sensibilidade ao toque. O reconhecimento de direitos, como aqueles destinados às pessoas com deficiência, é uma das demandas dos que convivem com essa doença complexa e sem cura.
Nossa aposta é na vida, na ciência e no diálogo com a sociedade. O subeditor Glauber Tiburtino leva os leitores a conhecer um lugar especial, onde história, conhecimento e diversão se encontram: O Museu da Vida, da Fiocruz, voltado à popularização da ciência e aos processos educativos em que a saúde é vista em seu sentido mais amplo.
Ele fica no bairro de Manguinhos, Rio de Janeiro, com espaços de exposições, biblioteca com contação de histórias, um teatro em que são apresentadas peças incríveis e um Parque da Ciência ao ar livre, com a reprodução gigante de uma célula e instalações que permitem observar os efeitos da física. Uma atração é o trenzinho que percorre arvoredos e leva ao famoso castelo mourisco da Fiocruz. Nessas férias de julho, 6 mil pessoas visitaram o museu em um único dia.
O museu transpõe os muros que afastam a ciência realizando exposições externas e ações em favelas. De tempos em tempos, o Ciência Móvel, um enorme caminhão colorido com um pouco de tudo que há no museu, vai para a estrada e ancora nas pequenas e grandes cidades, como um circo alegre, com a missão de levar e trazer conhecimentos na interação com as comunidades. Quase 1,2 milhão de pessoas foram alcançadas em 215 cidades. Ana Carolina Gonzalez, chefe do Museu da Vida, defende que um museu vivo aprende tanto quanto ensina. “Esse museu, que é arte e ciência sobre rodas, volta diferente de cada um desses deslocamentos”, comemora a pesquisadora.
■ Rogério Lannes Rocha, coordenador e editor-chefe do Programa Radis
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