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Embora a maioria das pessoas infectadas pelo coronavírus melhorem progressivamente após a fase aguda da doença, algumas delas podem permanecer com sintomas residuais por algum tempo ou ter sequelas tardias e permanentes. Uma Nota Técnica (NT) e um Guia de Manejo Clínico do Ministério da Saúde (MS) formalizam que a covid que não acaba, também conhecida como covid longa, covid-19 pós-aguda, síndrome pós-covid, covid crônica, efeitos em longo prazo da covid ou síndrome covid pós-aguda, passa a ser chamada de “condição pós-covid”. 

Os documentos revisam e atualizam informações sobre repercussões posteriores da covid-19. A Nota Técnica 57/2023 orienta quanto ao manejo, ajuda a entender melhor o que é a condição pós-covid-19 e estabelece algumas normas e orientações na atenção a pessoas com essa condição. Lançada em dezembro de 2023, a nota informa que a reinfecção pelo coronavírus pode aumentar o risco de uma pessoa desenvolver condições pós-covid que variam em intensidade, podendo melhorar, agravar ou se tornar recorrentes por meses ou até anos após a infecção. 

O Guia de Manejo Clínico das Condições Pós-Covid aprofunda o conteúdo trazido pela NT e estabelece o fluxo de atendimento no SUS. O documento deve ser lançado em abril de 2024. “Ele é mais robusto [que a Nota] e vai orientar as equipes de saúde a receberem o usuário do SUS com covid longa. Também serve como legislação e é um guia de orientação clínica para o atendimento deste usuário. Deve ser também um parâmetro nacional para a saúde suplementar”, disse à Radis Paola Falceta, presidente da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico Brasil). 

Paola explicou que muitos trabalhadores com sintomas posteriores à covid não fazem a relação de nexo causal com a doença. Com isso, não conseguem afastamento do trabalho ou licença-saúde. “Esse é um impasse na classe trabalhadora formal, sem falar nos informais que estão à margem da legislação trabalhista. Temos muito que caminhar, muita luta para conquistar, e estamos mais esperançosos com a certeza de que um passo grande foi dado”, salientou.

Constelação de sintomas

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% das pessoas que tiveram covid desenvolvem alguma complicação prolongada. A variedade de complicações pós-covid levou a OMS a falar em “constelação de sintomas”. Pessoas com essa condição podem ter dificuldades de exercer atividades comuns, como trabalhar e realizar tarefas domésticas simples, além de ver prejudicado o seu desempenho profissional e a interação social, como mostrou a reportagem O que Vem Depois, publicada por Radis (239)

A Organização Panamericana de Saúde (Opas) enquadra a condição pós-covid como sinais ou sintomas que continuam ou se desenvolvem quatro semanas ou mais após a fase aguda da infecção e não podem ser explicados por diagnósticos alternativos. O Ministério da Saúde observa que quem teve as formas mais graves da covid-19, necessitou de cuidados intensivos, não foi vacinado ou tem condições de saúde preexistentes têm mais chances de desenvolver esse quadro.

A condição pós-covid é definida por manifestações que afetam os sistemas neurológico, respiratório, musculoesquelético, cardiovascular, geniturinário, gastrointestinal, mental e outros [veja quadro com os sintomas]. Os sintomas mais encontrados são dispneia, fadiga, confusão mental, perda prolongada de olfato e paladar, além de alterações cognitivas. Segundo o MS, é preciso investigar outros fatores clínicos já que muitas vezes é difícil distinguir os sintomas causados pelas condições pós-covid daqueles que ocorrem por outros motivos. 

O Ministério da Saúde informa no documento que não existe um exame ou testes para diagnosticar o pós-covid. Segundo o informe técnico, o histórico de exame positivo para a covid-19 ou exposição ao vírus, associados a uma avaliação clínica abrangente e minuciosa, exames laboratoriais, de imagem, eletrocardiograma, entre outros, podem ser úteis para auxiliar no diagnóstico.

O Ministério reconhece que são necessários mais estudos para compreender as ‘condições pós-covid’ a fim de caracterizar a prevalência, a duração e a gravidade dos sintomas. Salienta, também, que para evitar a infecção, é fundamental que a carteira de vacinação esteja em dia e é importante investir na prevenção com os mesmos cuidados da pandemia, como lavar as mãos, etiqueta respiratória, ventilação adequada de ambientes, evitar contato com casos positivos e usar máscara em situações específicas.

Outra informação é que a condição pós-covid é diferente de “síndrome pós-cuidados intensivos”, a PICS (da sigla, em inglês, Post-Intensive Care Syndrome), que se refere aos efeitos prolongados ou manifestações persistentes, recorrentes ou novas após internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Guia de manejo 

— Foto: Reprodução.

Rosângela Dornelles, representante da Rede Nacional das Entidades de Familiares e Vítimas da Covid, integrada pelas associações Vida e Justiça, Avico Brasil e Coalizão Nacional Nacional Orfandade e Direitos, afirmou que o sistema de saúde tem a marca da pandemia. “Vemos a quantidade de sintomas e ainda não temos noção de quanto isso vai impactar no sistema de saúde”, falou, no seminário de concepção e criação do Memorial da Pandemia de Covid-19, realizado em 11 e 12 de março de 2024, em Brasília.

Além de tratar sobre o memorial que será instalado no Centro Cultural da Saúde, no Rio de Janeiro, o evento apresentou os resultados obtidos pelo grupo de trabalho voltado para a rede de cuidado das vítimas de covid-19 e seus familiares, entre eles, a Nota Técnica e o Guia de Manejo Clínico, e resgatou a memória da pandemia. [Leia a matéria no site].

Os documentos apresentados são uma resposta à Recomendação no 13, de 26 de maio de 2022, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que solicitou ao Ministério da Saúde a construção de protocolos de uma rede de cuidados. Diante da ausência de resposta do governo anterior, em 6 de dezembro de 2022, foi instaurado um inquérito pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul pelo não cumprimento da recomendação do CNS (Radis 249). Em março de 2023, foi então formado o Grupo de Trabalho (GT) Rede de Cuidados às Vítimas da Covid-19 e seus familiares, com a participação das secretarias do MS e de pesquisadores da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e das faculdades de medicina da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Clique para ver a Nota Técnica Atualizações acerca das “Condições Pós-Covid”

Condições pós-covid

Neurológico

  • Dificuldade de memória e concentração (“névoa cerebral”)
  • Alteração cognitiva
  • Cefaleia
  • Perda de paladar
  • Perda de olfato

Cardiovascular

  • Palpitação
  • Disautonomia 
  • Dor torácica
  • Arritmias
  • Trombose/coagulopatias
  • Intolerância ao esforço físico

Respiratório

  • Tosse
  • Dispneia
  • Taquineia
  • Dor torácica

Gastrointestinal

  • Alteração do hábito intestinal
  • Náusea/dor epigástrica
  • Disfagia
  • Refluxo gastroesofágico 

Musculoesquelético

  • Mialgia
  • Artralgia Mental
  • Distúrbios de sono
  • Depressão 
  • Ansiedade 

Geniturinário

  • Disfunção erétil 
  • Alteração menstrual 

Outros

  • Alopecia
  • Alterações cutâneas
  • Desordens endócrinas
  • Fadiga/Cansaço
  • Alteração visual

Fonte: Dgip/SE

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