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Alta no número de casos e de mortes por dengue. Essa não é uma notícia nova no Brasil. O cenário vivido nos dois primeiros meses de 2024 é um velho conhecido da saúde pública. Ao longo dos últimos 40 anos, o tema dengue já esteve nas páginas de Radis de diferentes maneiras, em reportagens que apontavam que as soluções para o problema não devem ser buscadas apenas no combate ao mosquito, mas em estratégias que envolvam planejamento e atenção às desigualdades sociais.

2023 entrou para a história como o ano com o número mais alto de mortes por dengue (1.094) no país, na série histórica registrada pelo Ministério da Saúde desde 2000. E apenas os dois primeiros meses de 2024 já registraram 653.656 casos da doença, com 113 mortes confirmadas e 438 em investigação. Confira seis diferentes momentos em que a dengue foi tema de Radis.

A esperança da Wolbachia

Radis 248 (maio de 2023)

Como uma bactéria inserida no Aedes aegypti se transformou em um poderoso aliado no combate a arboviroses. — Capa: foto de Flavio Carvalho.
— Capa: foto de Flavio Carvalho.

Quando seria possível imaginar que o Aedes aegypti, principal transmissor da dengue, seria considerado um aliado para o controle da doença? O que parece um milagre é nada mais do que resultado do esforço da ciência. Com o método Wolbachia, liderado no Brasil pela Fiocruz, é possível inocular uma bactéria (a Wolbachia) nos mosquitos para que eles não sejam mais capazes de transmitir a doença. 

Ao serem soltos na natureza, esses mosquitos “do bem” (com a bactéria que é inofensiva a seres humanos) podem se reproduzir e ajudar a estabelecer uma nova população de insetos, que não irão mais transmitir a dengue. Na edição 248, Radis acompanhou o trabalho da equipe responsável por implementar o método na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro — onde houve a redução de 69,4% nos casos de dengue.

O método Wolbachia é complementar às demais ações de controle, como ressaltou Luciano Moreira, coordenador do projeto da Fiocruz. “Para que a gente consiga ser bem-sucedido, é preciso eliminar os criadouros. Todas as iniciativas precisam estar acontecendo ao mesmo tempo”, afirmou à repórter Ana Cláudia Peres. 

Segundo ele, nem a população nem o poder público devem mudar de comportamento — as rotinas de controle precisam continuar, principalmente aquelas que estejam atentas às desigualdades sociais.

Leia aqui: https://radis.ensp.fiocruz.br/reportagem/ciencia/o-segredo-da-wolbachia/ 


Não é só o mosquito

Radis 161 (fevereiro de 2016)

Nos primeiros meses de 2016, o Brasil vivia uma “tríplice epidemia”. Assim definiu o infectologista Rivaldo Venâncio, da Fiocruz Mato Grosso do Sul, a ocorrência simultânea de dengue, zika e chikungunya, três doenças transmitidas pelo mesmo mosquito: o Aedes aegypti.

Era a primeira vez que soava o alarme em relação à síndrome congênita do zika vírus. Em novembro de 2015, pesquisadores brasileiros identificaram a correlação entre zika e uma epidemia de microcefalia em bebês, como Luiz Felipe Stevanim contou na edição 161 (fevereiro de 2016). A saúde pública brasileira precisava lidar, ao mesmo tempo, com uma velha conhecida, a dengue, que já causava surtos epidêmicos desde a década de 1980, e os novos desafios trazidos por zika e chikungunya.

Por que o Brasil nunca solucionou a questão da dengue? A reportagem publicada por Radis, na ocasião, já mostrava que havia um erro nas estratégias de saúde em focar as ações no mosquito e não nas condições que propiciam a sua proliferação, como ausência de saneamento, oferta de água intermitente, acúmulo de lixo, limpeza urbana, falta de drenagem, entre outras questões.

Se o mosquito se espalha, é porque encontra condições favoráveis à sua reprodução, os chamados criadouros, que estão diretamente relacionados a problemas de abastecimento de água, saneamento e ausência de educação em saúde.

“Enquanto o modelo de controle dessa doença complexa for centrado no vetor, como já é realizado há mais de 40 anos sem sucesso, não teremos possibilidade de solução”, destacou a sanitarista Lia Giraldo, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco) à repórter Ana Cláudia Peres.


Sem educação, não há saúde

Radis 64 (dezembro de 2007)

O ano era 2007 e o Brasil levava “uma surra” do mosquito da dengue, antes mesmo do verão entrar, como admitiu o então ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Com um aumento de 50% nos casos da doença, mesmo antes do ano acabar e iniciar a estação mais quente, o Ministério da Saúde decidiu antecipar o lançamento da campanha nacional de mobilização contra a dengue, como Radis mostrou na edição 64 (dezembro de 2007).

Mais comum no verão, em razão do aumento das temperaturas, que favorece a proliferação do mosquito, a dengue assombra os brasileiros também em outros meses do ano. E não é de agora. “Nas principais cidades brasileiras, as condições são favoráveis ao Aedes aegypti em qualquer período do ano”, advertiu o pesquisador Anthony Érico Guimarães, do Laboratório de Díptera da Fiocruz.

O repórter Adriano De Lavor mostrava, já em 2007, que o problema da dengue era também uma questão de comunicação — ou de ausência dela, com estratégias equivocadas que não promovem educação em saúde com a população. 

Segundo o pesquisador Anthony Érico, ouvido na matéria, as ações que o poder público chama de educativas são apenas informativas e não alcançam a raiz do problema. “A maioria dos atingidos pelas epidemias de dengue, embora recebendo pelas diferentes mídias informações sobre o combate ao mosquito, não sabe ou não pode efetivamente eliminar os criadouros”, explicou, na ocasião.

Leia aqui: https://radis.ensp.fiocruz.br/todas-edicoes/radis-64/


Entrevista com o mosquito

Súmula 87 (março de 2002)

Mesmo antes da revista Radis ser criada no formato atual, em agosto de 2002, a dengue já circulava pelas páginas das publicações editadas pelo Programa Radis, entre elas Súmula e Dados. Em um tom irreverente, a edição 87 da Súmula, em março de 2002, trazia uma entrevista com ninguém menos do que o Aedes aegypti — que fazia questão de dizer que era uma “mosquita”, já que as fêmeas da espécie é que são as responsáveis pela transmissão da dengue.

“É só pegar os jornais e vocês podem perceber que os principais focos da epidemia começam nas periferias, nos ambientes onde há saneamento deficiente (principalmente onde não há água corrente) e pobreza”, afirmou o Aedes, na entrevista fictícia. “Essa não é uma guerra que se ganha em um dia. É preciso ações coordenadas de combate, envolvimento total de todos e, principalmente, continuidade”.


A epidemia esperada

Súmula 14 (junho de 1986)

“A epidemia de dengue que atingiu o Rio de Janeiro não surpreendeu os especialistas em Saúde Pública”, já afirmava Radis há quase 38 anos, em junho de 1986, na publicação Súmula (edição 14). O que faltou, então? Segundo a matéria publicada na época, a falta de planejamento, de recursos e de prioridade, aliada à piora das condições de vida, levou à volta de doenças já conhecidas, como malária e leishmaniose, e novos agravos, como a dengue.

Na década de 1980, a dengue ainda era pouco conhecida pela população e gerava alarde: notícias de uma “doença misteriosa” começaram a circular na periferia do Rio de Janeiro e na cidade de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Os sintomas eram dores de cabeça e musculares, febre, vômitos e cansaço. As notícias assustaram ainda mais quando foi divulgado que o mosquito transmissor da dengue era o mesmo da febre amarela, que a população já pensava extinto do Brasil.

No entanto, especialistas em Saúde Pública já cobravam das autoridades da época ações para que a população não fosse surpreendida por “fatos de consequências imprevisíveis”.

O que é a dengue?

A dengue é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um arbovírus do gênero Flavivírus e transmitida por um mosquito do gênero Aedes. A maioria dos doentes se recupera; porém, parte deles podem progredir para formas graves, inclusive virem a óbito. A quase totalidade das mortes por dengue é evitável e depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada e organização da rede de serviços de saúde.

A primeira epidemia documentada no Brasil ocorreu em 1981 e 1982, em Boa Vista (RR). Após quatro anos, em 1986, ocorreram epidemias atingindo o estado do Rio de Janeiro e algumas capitais da região Nordeste. Aspectos como a urbanização, o crescimento desordenado da população, o saneamento básico deficitário e os fatores climáticos mantêm as condições favoráveis para a presença do vetor.

(Com informações do Ministério da Saúde. Saiba mais: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/dengue)

Quer saber mais sobre a dengue?

Leia aqui: https://radis.ensp.fiocruz.br/reportagem/dengue/uma-vacina-contra-a-dengue/

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