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Na sombra de uma árvore, a equipe de vacinação monta um posto itinerante para vacinar os indígenas. O técnico de enfermagem Marcos Brito dos Reis percorre as malocas e, com a ajuda de um intérprete, avisa que já podem se aproximar. É o primeiro dia dos vacinadores em campo. “Trouxemos 125 nomes, começamos a procurar e muitos não se encontram na Casai”, relata, pois como a Casai não é um hospital, é comum alguns Yanomami saírem para passear durante o dia.

Vacinas contra a covid-19, a hepatite A e a pneumo-13 estão na lista de imunizantes. Denilma de Souza, técnica de enfermagem também responsável pela vacinação, relata que há baixa adesão — entre os motivos, estão as barreiras de comunicação. Ela trabalhou na TIY, na Maloca Paapiú, mas por conta da gestação voltou para Boa Vista. Grávida de seis meses, ela aguarda o nascimento de Valentina.

No primeiro dia, somente 17 doses foram aplicadas. Voltamos no dia seguinte e encontramos a equipe mais animada, começando a vacinação pela maloca de Waputhá, com a família de Ifioma. Marcos conta que veio do Amapá para colaborar na Emergência Yanomami com imunização. Há 12 anos, ele trabalha com Saúde Indígena em seu estado, no município de Pedra Branca do Amapari (AP), com o povo Waiãpi.

Há 10 dias em Roraima, ele percebe que o cenário é de desassistência e de falta de estrutura. “No Amapá, quando é para vacinar as áreas de difícil acesso, os helicópteros saem do polo base e levam a gente para a aldeia para vacinar. Se possível a gente faz vários pontos no mesmo dia”, conta. No início da campanha contra a covid, ele encontrou muita resistência devido à circulação de informações mentirosas de que a vacina fazia mal.

Como já trabalhava há alguns anos na região, ele teve uma ideia: não se vacinou em Macapá e quis mostrar, ao vivo, na aldeia, que a vacina era segura. “Eles não queriam tomar. Mas ao conversar e explicar, encerrei o meu discurso falando: ‘Para vocês verem que não é fake news, que a vacina é algo para melhorar a nossa vida, eu vou me vacinar na frente de vocês’”, relembra. Marcos narra que os indígenas aguardaram meia hora e logo já formaram a fila. “A aceitação foi de 100%”, conclui.

“A vacina na Saúde Indígena é um programa essencial. Como profissional, é muito gratificante trabalhar como vacinador. Sei que ninguém é insubstituível, mas eu me sinto muito importante”, confessa.

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