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O Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune) é um evento importante para o movimento estudantil, não só por debater um programa de educação nacional possível e aplicável de Norte a Sul de um país continental, mas por reunir no mesmo ambiente físico estudantes de diferentes culturas, hábitos e modos de interagir, mas que acreditam na mesma coisa: o futuro da educação.

Mesmo sendo uma das capitais do país, Boa Vista nunca pareceu parte de algo maior, pelo menos para mim. O debate político sempre acontece entre poucas pessoas, as decisões de viés mais social são tomadas por quem não se beneficia delas, e não há espaço nenhum para oposição. Dentro da Universidade Federal de Roraima (UFRR), no entanto, o cenário é diferente: apesar das rivalidades internas, as forças políticas sempre interagiram de forma democrática e respeitosa. Todos vivemos em uma das capitais em que o discurso da educação militar é mais forte, portanto existe razão para unificarmos nossas pautas, mas até onde as forças compartilham a mesma análise de conjuntura?

A resposta vem em nível nacional, por meio do resultado do 59° Conune, que aconteceu entre 12 e 16 de julho, em Brasília. Quem está mais por dentro dos debates políticos do movimento estudantil sabe que a composição da UNE passou por um redirecionamento político por parte de alguns setores, mas nada disso vale se a base — os estudantes da graduação que foram eleitos delegados em suas instituições de ensino — não estiverem a par do que está acontecendo. Cada um tem a liberdade para tirar suas próprias conclusões, que podem variar de acordo com seu nível de debate, coletivo, cor, raça, gênero, sexualidade, ideologia, classe social etc.

Dentre as principais reivindicações que foram definidas no Conune, a inclusão e ampliação da já bem-sucedida política de cotas foi unânime: cotas para trans, cotas para professores, cotas para pós-graduação, gritos que se unificam em uma juventude para a qual a identidade é uma das suas principais armas políticas. O combate à violência nas escolas também foi muito discutido no evento. Os ataques recentes registrados em vários estados do Brasil indicam que a onda de ódio ainda presente no cotidiano brasileiro precisa ser combatida a todo custo. Nós acreditamos que são as escolas que irão transformar a sociedade, não as delegacias.

As experiências e trocas que a vivência coletiva promoveu, durante o encontro, são fundamentais para o desenvolvimento da juventude do século 21, quando a individualidade da vida moderna e das redes sociais tende a ser regra. Acreditamos que uma foto para se exibir para os amigos não é mais suficiente. Agora é necessário passar pelos perrengues que a luta contra o sistema capitalista traz, absorver o aprendizado e seguir em frente, com a certeza de que a vida tem sentido. É necessário inspirar a juventude para que as mudanças de conjuntura não tornem as reivindicações obsoletas.

Lutar por uma educação de qualidade, plena e inclusiva: com pessoas trans, neurodivergentes, PcDs e baseada na igualdade racial e de gênero é o ponto de partida para a juventude que vai carregar o legado histórico da UNE, dos estudantes de ensino superior. Parece fácil de conseguir, mas ainda há um longo e burocrático caminho pela frente até que todas as nossas reivindicações sejam ouvidas por quem realmente precisa ouvir.

* Tallon de Almeida é estudante de Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Roraima (UFRR), onde desenvolve o projeto de pesquisa A Expansão das Linhas de Distribuição de Energia Elétrica para Comunidades Indígenas. Ex-integrante do DCE e representante da Associação das Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado de Roraima no Conselho Estadual LGBT+, participou do 59º Conune representando o RUA - Juventude Anticapitalista.
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