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Que Brasil você quer ver daqui a 10 anos nas coberturas de Radis? Que saúde você imagina que será retratada em nossas publicações? E qual é o SUS que você sonha daqui a uma década? Pensar no futuro é um exercício de imaginação e de desejo, mas é também um esforço em olhar para os problemas e as contradições do presente e identificar alternativas para superar as dificuldades. Na última matéria que celebra os 40 anos do Programa Radis e os 20 anos da revista, convidamos seis personalidades da saúde e dos movimentos sociais — que são também leitores e leitoras de Radis — para imaginar o que gostariam de ver publicado daqui a 10 anos. 

E você, já pensou no Brasil e no SUS que sonha para o futuro?

Daqui a 10 anos…

Nísia Trindade Lima, socióloga e presidente da Fundação Oswaldo Cruz

  1. O Brasil que quero ver
    • Minha resposta a essa pergunta está muito próxima à carta da Fiocruz aos candidatos à Presidência da República e à sociedade [lançada em agosto de 2022]. Ela contém boa parte das esperanças e desafios que enxergo para o país, a saúde e o SUS nos próximos anos. Como elemento básico, está a questão social das desigualdades, que precisam ser superadas a fim de assegurarmos vida digna a toda a população. É impossível pensarmos em um país soberano e democrático sem a plena vigência dos direitos de cidadania, civis, políticos e sociais, garantidos em nossa Constituição. Transversal às questões sociais está a maneira como nos reconhecemos coletivamente. Espero ver por isso um Brasil que promova equidade e cultive outra visão de país e de nação, a partir de uma identidade diversa, tal como afirmamos na Constituição e na existência de povos indígenas e de populações tradicionais. Espero ver ainda um Brasil empenhado na agenda da sustentabilidade. Podemos crescer, investir, sermos inovadores ao mesmo tempo em que cuidamos das pessoas e do planeta. A Agenda 2030 tem grande convergência de valores com a matriz histórica da própria Fiocruz, baseada em uma forte correlação entre saúde, desenvolvimento e sustentabilidade. A democracia, como valor universal, atravessa todas essas considerações, tanto na atuação das instituições, que se mostraram fundamentais durante a pandemia, quanto na participação popular nos processos decisórios. A inserção internacional do país deve se pautar nessa visão democrática e contribuir para o fortalecimento de uma governança global que reduza as assimetrias entre países.
  2. A saúde que almejo
    • Acredito que veremos uma saúde mais consagrada em sua visão ampliada, como bem-estar e boas condições de vida. Veremos uma saúde aliada a uma ciência que mobiliza abordagens interdisciplinares, para lidar com a complexidade das emergências sanitárias, mais frequentes e multicausais. Espero ver uma comunicação da ciência mais próxima da sociedade, para que se cultive uma relação de confiança, ingrediente fundamental nas campanhas de vacinação. Embora a hesitação vacinal no Brasil não seja tão alta, estamos tendo uma adesão ainda baixa à vacinação. O Brasil e o Programa Nacional de Imunizações (PNI) precisam voltar a ser exemplos em termos de cobertura vacinal, para voltarmos a prevenir doenças e eliminarmos o sarampo no país. Um esforço global também vem sendo empreendido em relação à pólio. Entre outras ações, a Declaração Científica sobre a Pólio, movimento do qual participo, aponta a possibilidade de erradicarmos a doença até 2026. Em relação às arboviroses, temos projetos promissores para reduzir sua incidência, como o Método Wolbachia, cuja eficácia foi reforçada recentemente por estudo da Universidade de Cambridge. Espero ainda ver mais fortalecido o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis). A saúde é uma nova frente de desenvolvimento para o Brasil, e temos muita margem para reduzir nossa dependência externa de importações em saúde, hoje na ordem de US$ 20 bilhões. Por fim, nada se move na saúde sem seus trabalhadores, que espero ver mais valorizados. Precisamos cuidar também de quem cuida.
  3. O SUS que sonho
    • O Sistema Único de Saúde é uma das maiores conquistas da sociedade brasileira. Um imenso contingente da população brasileira, antes sem qualquer proteção social, passou a ter atendimento público em saúde, o que fez da saúde um bem coletivo que cria laços de solidariedade. Sabemos, entretanto, que há problemas para garantir de forma efetiva seus princípios constitucionais de universalidade, equidade e integralidade. O SUS é o maior sistema universal de saúde do mundo em termos de população, mas é também o mais subfinanciado. Para enfrentar essa contradição, propusemos em nossa carta que o investimento público em saúde aumente progressivamente de 4% para 7%. O fortalecimento do SUS passa também pela Atenção Primária de qualidade, integrada aos demais níveis de atenção e universalizada, presente em todo o país. Ela é o que nos permite chegar antes da doença, fazendo da prevenção um ativo precioso. Um SUS forte nos dará ainda maior capacidade de antecipação, preparação, resposta e recuperação diante de emergências sanitárias. Por sua importância na oferta de produtos essenciais, retomo aqui o conceito do Ceis, entendido como parte integrante do SUS. O SUS é elemento essencial da democracia e de uma proteção social abrangente. Do acesso universal à saúde dependem a justiça social, a equidade, a democracia, a soberania e o desenvolvimento sustentável.

Vanilson Torres, coordenador do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) no Rio Grande do Norte e membro da coordenação nacional

  1. O Brasil que quero ver
    • O Brasil que eu quero ver, que nós queremos ver, enquanto coletivo, como movimento nacional, é um Brasil inclusivo. É um país restabelecido em relação aos direitos sociais, à democracia, que respeite as diferenças, que respeite o seu povo. É um Brasil sem racismo, sem homofobia, sem capacitismo. Em dez anos, o que queremos ver é um lugar para todos, todas e todes, que veja os determinantes sociais em saúde das populações periféricas, das populações em situação de rua, da população indígena e da população negra que é a grande maioria desse país. Desejamos que seja um Brasil do qual tenhamos orgulho em mencioná-lo em nossas falas, sem retrocessos e com o fortalecimento da democracia.
  2. A saúde que almejo
    • Uma saúde para todos, todas e todes, que não tenhamos milhões de pessoas em filas, na regulação, esperando por uma cirurgia. Esperamos uma saúde em que haja mais respeito com os trabalhadores do SUS. Que o país garanta o orçamento real, adequado e suficiente para a saúde do povo brasileiro. É isso que queremos estampado na Radis em 10 anos. Desejamos uma saúde igualitária, respeitando as diferenças, os determinantes sociais em saúde, com moradias para todes. Queremos um país que não se atente somente à doença, mas que cuide da prevenção e que a nossa grande referência na saúde seja o acesso garantido a todas as populações.
  3. O SUS que sonho
    • Nós imaginamos um SUS atendendo a todas as demandas em saúde do povo brasileiro e que possa ter a qualidade necessária para absorver todas essas demandas. Como o SUS é importante em nossas vidas, não é? Acreditamos que finalmente a população brasileira percebeu isso em meio à pandemia de covid-19. Se não fosse o SUS, onde nós estaríamos? Nós imaginamos o Sistema Único de Saúde com possibilidades reais de garantir a saúde do povo brasileiro, de garantir vacinação, que seja feito um bom uso de publicidade na grande mídia e nas redes sociais, que faça com que o povo brasileiro valorize o SUS. Imaginamos um SUS participativo, que possa nos dar as respostas necessárias nas questões de saúde do povo brasileiro. Desejamos que não exista mais a EC 95 [Emenda Constitucional nº 95/2016], que congela os investimentos. Queremos a garantia de acesso com a cara do povo brasileiro, que seja um SUS com democracia.

Arlindo Fábio Gómez de Sousa, sociólogo, sanitarista, professor emérito da Fiocruz e superintendente do Canal Saúde

  1. O Brasil que quero ver
    • Se [eu] estiver ainda por aqui aos 90 anos, quero ver uma população, em especial uma juventude, participando ativamente na determinação dos rumos de nosso país, com o firme compromisso de combater a pobreza, as desigualdades e iniquidades, defendendo e lutando para que todos tenham garantida a integralidade de seus direitos, valorizando a educação, a saúde, a ciência, orgulhosos de fazer parte de nossa diversidade cultural, comprometidos com a preservação de nosso patrimônio ambiental, com a manutenção e fortalecimento das instituições que asseguram nossas liberdades e o compromisso histórico de solidariedade entre os povos por meio de uma participação pujante no cenário internacional.
  2. A saúde que almejo
    • Quando me perguntam qual saúde estará estampada na Radis, respondo que a mesma que nestes 40 anos orientou sua linha editorial, sintetizada no lema Saúde é Democracia. Portanto, o que for daqui a 10 anos, que se constitua na vanguarda da discussão sobre saúde, será pauta de Radis. Assim foi nestes quarenta anos, assim será nos próximos 10, 20, 30 e mais anos de vida do projeto que inicia com um punhado de militantes da causa da saúde, jamais acanhado ou omisso diante das questões centrais do debate da saúde, sempre ousado, que ousadia é o que define a linha editorial de Radis.
  3. O SUS que sonho
    • A prospecção em nossos tempos tem, mais do que nunca, elevada dose de desejo. Imagino, pois, um SUS assim, potente, apoiado pela sociedade, buscando a equidade, a universalidade da atenção em todos os níveis e atividades, como um processo em construção, atento aos novos agravos, às novas doenças, com apoio da pesquisa, desenvolvimento e inovação, capaz de responder às emergências sanitárias e necessidades de atenção de toda sociedade. Em outras palavras, consoante ao slogan Democracia é Saúde.

Vitória Bernardes, psicóloga e conselheira do Conselho Nacional de Saúde como representante da Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME)

  1. O Brasil que quero ver
    • O Brasil que eu quero ver é um país que avançou em políticas distributivas, na garantia de direitos de forma ampla e não apenas para determinadas populações, um Brasil que se encaminha para a efetivação da justiça social.
  2. A saúde que almejo
    • Eu acredito que a Radis vai estampar a notícia sobre a garantia da integralidade das pessoas com deficiência, em que a gente não adoeça mais pela negligência e pelas barreiras impostas, que possa ter a nossa saúde de fato garantida como qualquer outra pessoa e também possa fazer cada vez mais parte desses espaços de decisão. A saúde que acredito é aquela que garante emprego para quem quer e pode trabalhar e garante escola inclusiva, transporte e exercício da cidadania sem ser apenas a partir da condição financeira. E isso, sim, seria uma saúde em que a Radis vai pautar muito mais a nossa existência a partir da nossa participação do que da nossa falta no processo de adoecimento.
  3. O SUS que sonho
    • Imagino o SUS investindo fortemente na atenção básica, na promoção de saúde, no compartilhamento de informações sobre os processos de saúde e adoecimento da população. Imagino um SUS que invista na carreira pública, em trabalhadores que não são sucateados, que não estão com relações de trabalho precarizadas. Acredito em um SUS forte, público, sobretudo na atenção básica para que a gente tenha noção do quanto precisamos fazer parte e fazemos parte do nosso processo de saúde. Em 10 anos, acredito em um SUS ainda mais comprometido com a emancipação dos sujeitos, em que as pessoas compreendam a importância e façam cada vez mais parte do controle social.
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