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Com 37 semanas de gestação, Janielle Sobral Alexandre da Silva procurou atendimento no Hospital Nair Alves Raimundo, no município de Cachoeirinha, em Pernambuco, onde mora, por sentir dores. De lá, a gestante foi transferida para a maternidade do Hospital Regional Jesus Nazareno (HRJN), em Caruaru, no Agreste pernambucano, distante 36 quilômetros. Em 21 de janeiro, ela deu à luz José Neto, com 2,8 quilos e nascido de parto normal. Três dias depois, a mãe e o bebê foram levados pela equipe técnica para a Casa de Maria, uma casa de apoio que recebe gestantes e puérperas que têm alta do HRJN e precisam esperar pelo momento em que irão de volta para casa.

Janielle estava à vontade quando contou à Radis que o silêncio e a tranquilidade da Casa de Maria são importantes para as mães que tiveram um parto recente. A seu lado, José Neto dormia no bercinho e ela, atenta, observava se tudo estava bem. “Aqui é diferente. Na enfermaria é bom, mas é mais tumultuado. Aqui é mais tranquilo, mais calmo. A gente está se sentindo em casa”, reforçou. Ela foi mais uma puérpera acolhida pela Casa de Maria e faz parte do total de 400 mulheres que, desde novembro de 2023, de alguma forma utilizaram as instalações deste equipamento oferecido pelo HJRN. 

As mulheres que mais frequentam o hospital vêm de municípios vizinhos, mas há casos de algumas que saem de cidades situadas a mais de 280km para dar à luz ou comparecer a uma consulta. Elas precisam de um lugar para ficar e são encaminhadas para a Casa de Maria. O HRJN é referência secundária para gestação de alto risco para 90 municípios de Pernambuco, onde estão incluídas as microrregiões de Serra Talhada, Afogados da Ingazeira, Arcoverde, Garanhuns e Caruaru, abrangendo uma população de cerca de 2,5 milhões de habitantes. 

Segundo o diretor Dayvid Epifânio, no mês de dezembro de 2023, a maternidade do Hospital Jesus Nazareno realizou o maior número de partos do Estado (586), sendo boa parte deles de alto risco. “A estratégia de saúde é centralizar e depois viabilizar o acesso e a acessibilidade das pacientes”, diz o sanitarista, que assumiu a direção-geral em junho. 

Quando chegam na casa de apoio, as puérperas são acolhidas, recebem alimentação e usufruem de um espaço diferente de uma maternidade. É uma casa e, ali, elas têm acesso à equipe do banco de leite, da fonoaudiologia, do serviço social, entre outras, como formas de cuidado integral à saúde. “O serviço social entra muito forte na garantia dos direitos, especialmente se a mulher for agricultora. Vamos ter apoio nutricional em breve”, anunciou Dayvid.

Dayvid Epifânio, diretor do Hospital Regional Jesus Nazareno (HRJN), em Caruaru, no Agreste pernambucano. — Foto: Liseane Morosini.

Casa de apoio

A Casa de Maria foi requalificada em outubro de 2023, com financiamento do Ministério da Saúde. Depois de dois meses de obras, o equipamento foi reaberto. Há quatro quartos, com 10 camas e seis berços, banheiro, cozinha e área de convivência, e um quarto destinado para a plantonista. Um cronograma estabelece as atividades e apenas mulheres trabalham na casa, inclusive na equipe de vigilantes. Uma assistente social e uma técnica de enfermagem acompanham o trabalho de forma permanente.

No jardim externo há planos para instalar uma horta que vai promover saúde para as mulheres. Haverá, ainda, um espaço para recreação e lazer. “Não é só reformar, mas qualificar e entregar um ambiente humanizado. É ter uma programação para que as puérperas e as gestantes, inclusive do pré-natal de alto risco, e as mães que estão com os recém-nascidos internados, encontrem uma casa de acolhimento às pacientes do SUS”, disse Dayvid.

Clarice da Conceição Sousa, mãe de Maria Helena, ficou uma semana internada após o nascimento da filha, em 19 de janeiro, e chegou à casa de apoio quando Radis foi conhecer o serviço, no fim de janeiro. A costureira passou o dia no local esperando o transporte do município de Santa Maria do Cambucá, distante 69 quilômetros de Caruaru, programado para o final da tarde. “No hospital é muito barulho por conta dos bebês e dos acompanhantes que ficam no corredor. Aqui é mais calmo”, afirmou. A seu lado, Maria de Lourdes da Conceição Silva, sua tia, disse que também se sentiu acolhida. “É como se a gente estivesse em casa”, afirmou.

Janielle e Clarice, puérpueras, e Maria de Lourdes, acompanhante: silêncio do local, estrutura e acolhimento dos profissionais fazem a diferença da Casa de Maria. — Foto: Andreza Ferreira.
Janielle e Clarice, puérpueras, e Maria de Lourdes, acompanhante: silêncio do local, estrutura e acolhimento dos profissionais fazem a diferença da Casa de Maria. — Foto: Andreza Ferreira.

Trabalho conjunto

José Moreira Neto ficou impactado com as condições que encontrou ao assumir a coordenação administrativa do equipamento. “Não era possível que fosse aquilo chamado de casa de apoio. Encontrei condições sub-humanas, com mulheres fragilizadas dormindo em um ambiente sujo, com muita poeira. Elas dividiam o espaço com um depósito de colchões e arquivos”, relembrou o coordenador.

O desafio, para ele, ia além da requalificação física do espaço, que em sua avaliação tem uma boa infraestrutura. Ele contou que era preciso fazer com que a Casa “continuasse a andar” e avaliou que a participação da equipe foi fundamental nesse processo. “Todo mundo levantou a bandeira do cuidado com a Casa de Maria”, destacou.  

Zenilda Pedrosa, cuidadora e técnica de enfermagem, lembrou à Radis que, antes, a Casa de Maria funcionava apenas no horário noturno. As mães que tinham alta ficavam numa saleta, no hospital, à espera do transporte de retorno. Com a requalificação, hoje o atendimento é 24 horas. Zenilda cita que foi um ganho a presença permanente da equipe técnica para detectar qualquer intercorrência. “Tem o nosso olhar crítico. Sempre estamos presentes”, afirmou. 

Além das puérperas, a Casa de Maria acolhe também mães com recém-nascidos internados na unidade de cuidados intermediários (UCI). “A gente preconiza a portaria ministerial que determina que o pai e a mãe não são acompanhantes, eles são integrantes da família. E assim eles têm acesso livre à UCI quando quiserem”, diz Dayvid. Segundo o diretor, enquanto seus bebês estão internados, as mães encontram na Casa de Maria um espaço de proteção e assistência. Ele avalia que todo resultado é fruto do planejamento participativo e de um modelo de gestão da equipe multiprofissional que trabalha em sintonia com o núcleo gestor. “Até porque ninguém faz nada sozinho”, sinalizou.

Outros programas

Fundado em 1948, o HRJN possui 120 leitos e integra o quadro de hospitais Amigo da Criança, cumprindo todos os passos estabelecidos pelo Ministério da Saúde sobre aleitamento materno. Entre os programas desenvolvidos no HJRN está o Mãe Canguru, que existe na maternidade há mais de 19 anos e tem como objetivo reduzir a mortalidade neonatal. Mesmo depois que o método deixa de ser usado, mãe e filho são acompanhados por até 5 anos pela equipe do hospital, se necessário. 

Já o Banco de Leite Humano, destinado aos bebês nascidos apenas no HRJN, foi implantado no fim de 2007, para atender recém-nascidos prematuros de baixo peso, com problemas gastrointestinais ou com outras indicações a critério da equipe médica. Segundo dados da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH), em 2023, o BLH do Jesus Nazareno atendeu individualmente 21 mil mulheres e, em grupo, cerca de 700. Ainda, coletou quase 416 litros de leite de 413 doadoras e distribuiu 338 litros de leite humano pasteurizado.

Em 2025, os serviços do HRJN vão passar a ser oferecidos no novo Hospital da Mulher do Agreste (HMA), que segue em construção em Caruaru, com previsão de entrega nos próximos meses. Com o novo Hospital da Mulher do Agreste, a região terá um incremento na assistência materno-infantil, com 186 leitos, e a Casa de Maria continuará como equipamento de acolhimento e apoio.

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