Pesquisadores da Fiocruz e equipes da vigilância sanitária e da atenção básica do SUS estão investigando e tratando a hepatite delta na Amazônia brasileira, onde a doença é endêmica, com cerca de 73% dos 4,3 mil casos no país nos últimos anos, afetando especialmente a população ribeirinha na interseção dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia.
Embora atinja cerca de 18 milhões de pessoas no mundo e esteja associada a casos mais graves da doença hepática, com risco aumentado para o desenvolvimento de cirrose e câncer de fígado, quando comparada à hepatite B, a hepatite viral D ainda é negligenciada. Há necessidade de rastreamento de casos, testagem, diagnósticos mais precisos, tratamento e acompanhamento adequados. Um dos objetivos da pesquisa é descobrir o motivo pelo qual a hepatite delta atinge de forma mais agressiva moradores de comunidades ribeirinhas.
Radis acompanhou o trabalho de pesquisadores do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia em expedição que percorreu trechos da Rodovia Transamazônica e navegou por quase 20 horas e visitou duas comunidades às margens do rio Purus. Levado pelo preciso e poético texto e as fotografias produzidas pelo repórter Adriano De Lavor, o leitor poderá conhecer um pouco desse complexo contexto, descrito a partir da voz de ribeirinhos e profissionais de saúde e por meio de “paisagens incríveis e histórias de vida únicas”.
Na Europa, somente nos três primeiros meses de 2024 foram registrados mais de 32 mil casos de coqueluche, de acordo com o Centro Europeu de Controle e Prevenção das Doenças (ECDC), frente aos cerca de 25 mil em 2023. O Brasil registrou uma morte de bebê pela doença, após três anos sem óbitos. Em 2019, um surto da doença levou a 12 óbitos. Nesta edição, explicamos o que é a doença, os sintomas e as formas de prevenção — vacina! — e tratamento. O aumento de casos pode ser explicado pela concomitância de um novo ciclo de circulação da bactéria bordetella pertussis somado à desinformação e à descrença na vacinação resultantes da má condução da saúde pelos governos anteriores.
A repórter Giovanna Garcia entrevistou a pesquisadora Simone Oliveira, da Fiocruz, sobre o complexo e sensível cuidado voltado aos danos psicológicos causados às vítimas de desastres socioambientais. São problematizados casos como as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, o crime socioambiental em Mariana, em 2015, e o acompanhamento psicossocial de longo prazo das vítimas da tragédia ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro, em 2011. Essa reflexão é essencial para lidar com inúmeras outras tragédias decorrentes das mudanças climáticas, sempre agravadas por desigualdades pré-existentes e o despreparo de governos e das populações nas cidades e outros territórios.
Em artigo na seção Pós-Tudo, o pesquisador Jefferson Lima, da Fiocruz, defende “equilíbrio entre inovação e ética” para que a inteligência artificial contribua para a eficiência do sistema de saúde. Entende ser necessário mapear como a IA está sendo usada no SUS, identificar quem a está usando, com qual objetivo, a que público ela afeta e quem é responsável por garantir que a aplicação funcione adequadamente. Na sua visão, um acompanhamento contínuo permitirá “a replicação de iniciativas bem-sucedidas e a identificação de usos que conflitem com os princípios éticos pactuados pela nossa sociedade”.
No ano em que se rememora os horrores da ditadura militar de 1964 a 1985, o subeditor Glauber Tiburtino reporta o desonroso papel dos médicos que participaram ativamente do aparato de repressão. Em contraposição ao juramento de usar seus conhecimentos e esforços para salvar vidas, a atuação de médicos no apoio à tortura não foi algo casual ou isolado, mas teve uma participação “ampla, sistemática e estratégica”, como constata em pesquisa e dissertação sobre o tema o historiador e jornalista César Chevrand.
Médicos foram responsáveis por internações psiquiátricas compulsórias de presos políticos, participação ativa em torturas indicando quando interromper e continuar as sessões, assinatura de laudos falsos para ocultar assassinatos cometidos pelos militares. “Dos 377 agentes de Estado acusados por crimes no relatório da Comissão Nacional da Verdade, 51 denunciados eram médicos (quatro militares e 47 civis)”, afirma Chevrand, frisando que esse número pode ser maior, porque há indícios de que médicos militares atuavam sem identificação de sua formação durante as sessões de tortura.
Por outro lado, nossa reportagem registra que muitos médicos e médicas lutaram contra a ditadura e, mesmo perseguidos, tiveram papel importante nos movimentos de Renovação Médica em sindicatos e conselhos profissionais, na redemocratização do país, na Reforma Sanitária e na construção do Sistema Único de Saúde. A esses valorosos médicos e médicas, prestamos hoje as nossas homenagens.
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