Um ato de violência escolar em São Caetano (SP), em 2022, atravessou os limites da escola por viralizar em uma rede social [Leia mais aqui]. Esse é apenas um dos exemplos de notícias de violência que envolvem ambientes escolares. O bibliotecário e pesquisador Adriano da Silva afirma que a escola tem sido alvo recente de violência em diversas dimensões — “violência contra os professores, violência entre alunos, cyberbullying, em casos mais graves a gente acompanhou escolas vítimas de tiroteios e atentados a mão armada”.
Adriano realiza a pesquisa “A violência digital no ambiente escolar como questão de saúde pública: elementos para a construção de uma política informada por evidências”, pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz. O estudo tem o objetivo de gerar dados empíricos para possibilitar a criação de políticas públicas para o combate à violência digital nas escolas.
O pesquisador lembra que a violência está diretamente atrelada à saúde mental de quem está no ambiente escolar. “A escola, infelizmente, nos últimos anos, tem sido cada vez mais vítima de uma série de violências. Isso, por si só, já gera um quadro de ansiedade e depressão, tanto nos alunos como nos professores que estão ali trabalhando, diretores, pessoal da limpeza, de infraestrutura etc.”, pontua.
Um estudo de 2023, publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem, realizado por Deborah Malta e colaboradores, afirma que cerca de 13,2% dos estudantes já relataram terem sido vítimas de cyberbullying, sendo meninas e adolescentes mais jovens os mais afetados, entre 2015 e 2019, no Brasil.
Outro levantamento apresentado no Programa de Pós-graduação em Educação Escolar da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), fruto do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), aponta aumento nas cyberagressões — ofensas, ameaças, humilhações ou tentativas de chantagem — no ambiente escolar. Dados coletados com 3.469 estudantes de São Paulo, da rede pública e privada, com idades entre 11 e 17 anos, demonstram que as ações de cyberagressões prevalentes são: “enviar mensagens ofensivas”; “excluir uma pessoa, sem que ela queira, de uma rede social ou grupo porque não se gosta dela”; “ameaçar alguém por meio de mensagens na internet, nas redes sociais ou em situações de jogos online”; e “insultar ou zoar alguém por conta do seu tipo físico”.

Ainda, estudantes entre 13 e 18 anos demonstraram altos índices de ideação suicida, com porcentagens que variaram entre 21,6% e 34,1% em diferentes regiões do Brasil, de acordo com pesquisa do Centro Latino-Americano de Estudos sobre a Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). “Essa realidade reflete-se também na necessidade de suporte psicológico e de saúde mental [nas escolas]”, conclui o pesquisador Adriano da Silva.
Para além desses dados, ocorre o aumento expressivo do acesso à internet tanto por alunos, quanto por pais ou professores. Esse acesso se dá por diferentes vias, como computadores, celulares ou por diversas fontes, segundo Adriano. “Por um lado, a gente tem um facilitador de comunicação entre alunos e professores. A internet facilita o acesso à informação, isso é inegável. Por outro lado, trata-se também de um ambiente de muita disseminação de desinformação, discursos de ódio, a gente vê o extremismo atingir a internet e cada vez mais presente nesses espaços digitais”, afirma.
O pesquisador correlaciona o efeito dos discursos de ódio e do extremismo nas redes digitais com o agravamento de quadros de depressão, ansiedade e situações de violência nas escolas. Por isso, o projeto prevê diálogos deliberativos com formuladores de políticas públicas, pesquisadores, trabalhadores de escolas e representantes da sociedade civil para validar os resultados e desenvolver estratégias eficazes voltadas para o ambiente escolar.
“Esse tipo de ação [informada por evidências] garante que as decisões tomadas pelos formuladores de políticas públicas sejam efetivamente relevantes e aplicáveis na prática”, defende. “A gente acredita que a resolução do problema da violência na escola só vai acontecer por esse caminho”, conclui.
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