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Em 13 de dezembro de 2023, estive no Hospital São José de Doenças Infecciosas do Estado do Ceará, em Fortaleza, e enfim tive o diagnóstico que tanto esperava: estou curado da leishmaniose! Foram vários meses de luta e de muita paciência. 

Fui picado pelo mosquito palha (flebotomíneo) em junho de 2023 na zona rural de Palmácia, região serrana do Ceará. Não senti nenhum incômodo no momento, tampouco conseguia imaginar o que estava por vir. Duas ou três semanas depois, apareceu uma pequena mancha vermelha em minha perna, pensei tratar-se apenas de uma picada de muriçoca (pernilongo). Os dias passaram e a mancha continuou lá. 

Logo me dei conta que não era algo tão simples. Já havia passado um mês quando resolvi procurar ajuda médica: primeiro, fui ao farmacêutico que cuida de mim e de muitas pessoas em meu bairro. Logo, ele achou que poderia ser uma bactéria. Receitou-me um bactericida e o tomei por cinco dias. Não resolveu! 

Nesse meio tempo, estava com muitas atividades profissionais e não poderia pausar nada: aulas de composição coreográfica para um curso técnico, espetáculos de dança, orientações cênicas para atores. A lesão começava a ganhar forma e um leve incômodo, antes inexistente, instalava-se em minha perna. Procurei um clínico geral em uma UPA. 

Já na triagem, a atendente me deu uma certa prioridade, pois viu que a lesão estava iniciando um processo de infecção e abrindo pouco a pouco. Fui consultado e a médica constatou também ser uma bactéria. Recebi mais dez dias de antibióticos e corticoides. Voltei para casa esperançoso, mas após consumir toda a medicação, tive apenas um leve freio na velocidade de expansão da lesão, e que tomou fôlego logo nos dias seguintes. 

É importante situar que tomei a medicação — antibióticos e corticoides — entre os dias 8 e 18 de setembro. Lembro-me que ao participar de dois eventos no dia 15 do mesmo mês, voltei para casa com muita febre e dor nas duas lesões. Ali, comecei a ter real dificuldade para caminhar. Na noite de 17 de setembro, ao falar com uma amiga por chamada de vídeo, ela me pediu para ver a lesão (essa pessoa mora na região serrana e como já teve leishmaniose, imediatamente conseguiu identificar o que estava acontecendo). 

No dia seguinte, fui até o Hospital São José. Passei dois dias sendo jogado de um lado para o outro. Não havia médicos para tratar o meu problema, pois estavam de férias e teria que esperar por mais de um mês para enfim ser consultado. Tempo esse que eu não dispunha mais. A minha perna estava totalmente aberta no local da lesão e já não conseguia andar sem auxílio de uma bengala. No dia 20 de setembro, por intermédio de um amigo, enfim fui atendido por um médico infectologista no Hospital Monte Klinikum, também em Fortaleza. 

Após constatar que se tratava de uma leishmaniose tegumentar (tive sorte de não ser acometido pela infecção visceral), o médico me passou uma dezena de exames para que eu pudesse iniciar imediatamente o tratamento. Saí do hospital direto para o laboratório de análises clínicas. Lá fiz exames de HIV, sífilis, fígado, rins, diabetes, leishmaniose visceral, hemograma completo… Ao final do dia, com todos os resultados negativos, ele autorizou o início da medicação. Um comprimido de Fluconazol a cada oito horas. 

Os retornos ao hospital que a princípio eram uma vez por semana passaram a ser a cada dois dias. À medida que a medicação foi fazendo efeito, os protozoários foram morrendo. Um total de 100 caixas e 200 comprimidos. 

A partir do dia 10 de novembro, iniciei o tratamento venoso com Glucantime. Tomei duas ampolas diárias dessa medicação por 28 dias até as lesões fecharem completamente. Durante todo o tratamento fiz uma série de quatro eletrocardiogramas para acompanhar o efeito da medicação sobre a minha frequência cardíaca. 

A leishmaniose é uma doença muito dinâmica (há dias em que as lesões parecem recuar, mas logo elas voltam mais agressivas). Percebi que existe pouca informação e investimento na área da saúde sobre a sua causa e tratamento, pois só fui medicado de forma eficaz quando já estava prestes a ser internado. 

Hoje, estou curado. Estou retomando a minha vida social e em breve voltarei às atividades físicas. Mas por vários momentos, pensei que não fosse conseguir conter a infecção. Acordava no meio da noite com febre e temia perder a minha perna ou até mesmo morrer. Ser um atleta e ter tido uma vida com boa alimentação e sem vícios me ajudou a poder contar com os meus órgãos vitais em perfeito funcionamento nos momentos em que mais precisei.

* Fauller é bailarino, coreógrafo e diretor cearense de teatro e dança contemporânea
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